Como vos tinha contado ali mais abaixo, estive em meados de Maio na Letónia e na Lituânia, fruto dum Projeto Comenius em que o nosso Agrupamento esteve envolvido.
Fomos três alunas e dois professores, que participámos numa semana de trabalhos e partilha, com conferências, espetáculos, trabalhos, apresentações…
Quem diria que eu um dia iria estar a mais de 3 mil quilómetros do remanso do lar? Cada vez mais se prova que o Mundo se vai tornando, cada vez mais, pequeno!
Mas pronto. Vou partilhar convosco algumas das impressões que me ficaram desta estadia neste dois países, começando por aquilo que mais me tocou e impressionou:
A Religiosidade dos Lituanos (I)
Visitámos um sítio que, tanto tempo passado, não sei de que forma mais me impressionou. Estou a falar naquilo a que os Lituanos chamam, naturalmente, a Colina das Cruzes (“Kryžių kalnas” em lituano).
A história deste local é uma mistura de lenda e realidade. Lá dizem os entendidos: “se o mito ultrapassa a realidade, conte-se o mito.”
Quanto ao número de cruzes que existem nesta colina, há números muito díspares, mas creio haver algum acordo no número de 200 mil cruzes, embora em tempos idos tenham sido muitas mais, conforme explicarei mais adiante.
200 000 cruzes! Ou melhor, 200 001, pois a partir daquele dia, ficou lá mais uma cruz portuguesa, com o nome de Portugal e Ponte de Sor!
O seu aparecimento perde-se na poeira dos séculos. Há historiadores que localizam naquela zona um antigo castro, onde os habitantes tinham o costume de colocar cruzes, como manifestação da sua fé e religiosidade. Ao longo dos séculos, foram sendo colocados mais crucifixos, cruzes enormes, que viveram, mais ou menos pacificamente até à revolução soviética.
Ao certo, ao certo, é que nos tempos em que estes territórios faziam parte da extinta União Soviética, o poder de Moscovo nunca viu este terreno com bons olhos. Religião e Comunismo nunca se deram bem. E por isso, as populações da região de Siauliai (onde se situa a Colina), devido ao seu fervor religioso, foram “transferidas” para a Sibéria e outros gulags, onde poderiam “trabalhar” com menos “distrações”!
O poder soviético, como “recompensa”, arrasou a Colina, destruindo todas as cruzes. Mas isso foi sol de pouca dura, visto que, cada vez que faziam isso, a população voltava a colocar cruzes, crucifixos, transformando aquele lugar num autêntico calvário para os sovietes.
Na década de 60, mais uma vez foi a colina totalmente arrasada. O poder soviético tentou, inclusivé, criar uma barragem de modo a destruir e limpar aquele terreno para sempre!
Até à queda do Comunismo, foi uma autêntica luta “ora agora destróis tu, ora agora ponho eu mais umas cruzes”… E em 1985, acabou-se a luta, ficando a zona pacificada e com o aspeto que tem hoje.
Em 7 de Setembro de 1993, o Papa João Paulo II celebrou ali missa para 100 mil pessoas e em 1997 foi reinstituída a Festa da Colina das Cruzes, no último domingo de Julho.