quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Um ano = 365 dias de vazio imenso…

030824 017 Melides

Há um ano exato, tão suavemente como viveste, saíste da minha vida, numa noite fria, de inverno…

Nunca pude dizer-te tantas coisas, aquilo que foste para mim, o meu norte, o meu sul, o meu este, o meu oeste…

A maneira como me criaste, a tua vida, o teu exemplo baseado no respeito pelos outros, no amor à tua família, tudo isso ficou em mim como uma bússola que orienta os náufragos em mar de tempestade.

Por isso, Pai, te digo: um dia havemos de nos encontrar. Até lá.

O Pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda