terça-feira, 10 de abril de 2012

Festa da Salgueirinha, outros anos…

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Era fatal: a Segunda Feira de Páscoa era o dia da Festa da Salgueirinha, ou muito simplesmente o Dia da Salguerinha.

Todas as famílias (e não exagero quando digo “todas”) faziam os seus farnéis e zarpavam em direção da Salgueirinha, onde a música já tocava.

Sei que não era um dia fácil para a minha mãe, uma vez que tinha a Casa das Iscas à sua responsabilidade, a ela e só ela, porque o meu pai era um dos membros do grupo musical que abrilhantava a festa, o Conjunto Sor Ritmo.

 

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Fazer o farnel para toda a família (e para o resto da família e muitos amigos que se juntavam ao grupo, uma vez que os cozinhados da minha mãe eram conhecidos em todo o lado…) era uma trabalheira e conseguir arranjar toda a parafernália de louça, comida, bebida, enfim, tudo aquilo para tornar a festa em algo para nos recordarmos para sempre, era algo que lhe dava um certo prazer, confesso.IMG_1684

Ponte de Sor ficava praticamente deserta! O comércio fechado, os cafés fechados… Lembro-me que, uma vez, tive que vir ‘cá abaixo’ buscar qualquer coisa a casa e fiquei arrepiado com tão pouca gente que circulava na então vila.

«Tempora mutantur», já diziam os antigos. Os tempos mudaram e as coisas evoluíram. Para melhor? Cada um lá terá a sua opinião, mas a consequência do avanço do progresso foi a destruição duma festa, dum símbolo da união das famílias pontessorenses. Aquela segunda feira de Páscoa era o inevitável ponto de encontro dos naturais de Ponte de Sor, que aproveitavam para visitar a família, os amigos…

Hoje fui até à Salgueirinha. O Rancho do Sor está a fazer um trabalho memorável na revitalização de festas, romarias e festejos que marcaram os tempos de antanho. Foram as Festas de Agosto, substituídas pelas sensaboronas Festas da Cidade, é agora a Festa da Salgueirinha…

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Hoje fui até à Salgueirinha. E fiquei triste. Triste como quando se fica a observar o nosso filho, crescido, recordando-nos aquela criança, aquele bebé que um dia cresceu e ganhou voz própria.

A Salgueirinha já não tem voz própria. Já não se vêem as famílias com os farnéis, já não temos «os comboios a passarem», como diz a canção. Já não temos os risos das crianças, os gelados do Zé das Sardinhas… Já não temos o Sor Ritmo, já não tenho o meu pai que, sorrindo, me dizia «Vai avisar a mãe que vamos tocar para o rancho e tenho aí cinco amigos que vão comigo»…

«Ele gosta de mamar nos peitos da cabritinha»… Com esta melodia cheguei, com ela parti, nem cinco minutos lá consegui ficar. Deu-me pena, deu-me muita pena. O espaço é o que se sabe, exíguo e estreito. Conseguiram castrar o que a Salgueirinha tinha de belo: o espaço, as encostas onde as famílias de instalavam, até se perder de vista. Mas hoje havia lugar para muita gente. O organista Nuno Florindo tentava puxar mais gente para a dança, mas contei cinco pares a dançar, enquanto uns bebericavam uma mini, outros compravam algodão doce ou pipocas… Poucos. Muito poucos!

«Fruta ó chocolate», apregoava o ti Zé das Sardinhas… Mas os tempos estão mais para os «peitos da cabritinha»… Questão de escolhas!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Stop all the clocks, cut off the telephone

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Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

W.H.Auden

domingo, 4 de março de 2012

A propósito do Acordo Ortográfico

Henrique Monteiro - O Acordo 20 anos depoisA propósito da celeuma que por aí anda sobre a adoção/não adoção do Acordo Ortográfico, cujo último episódio teve origem no Secretário de Estado da Cultura, lembrei-me dum artigo que li no Expresso, assinado pelo seu diretor, Henrique Monteiro.

Devo dizer que, desde a primeira hora, me senti um pouco… incomodado com este Acordo, uma vez que nunca concordei com muitas das coisas que veiculava. Algumas, ainda vá, agora outras, como ‘janeiro’, ‘minissaia’, ‘adoção’, etc, faziam-me e ainda me continuam a fazer bastante comichão à minha inteligência.

Sendo professor, tive que o adotar, para o bem e para o mal, segundo legislação aprovada pelo Parlamento e ratificada pelo Governo. E como não vivemos numa república das bananas…

O artigo que segue, da autoria de Henrique Monteiro, repito, falará melhor que eu, pois é exatamente como me sinto e penso.

Aqui vai:

O Acordo 20 anos depois

 

Duas décadas depois de concluído, quatro anos depois de aprovado por ampla maioria no Parlamento, milhões de euros de investimentos depois, renasce a ofensiva contra o Acordo Ortográfico. Vamos falar de forma diferente? Claro que não! O que há é muita teimosia e alguma ignorância.

Henrique Monteiro (expresso.pt)

Dedicado a Vasco Graça Moura e a todos os opositores do Acordo Ortográfico

A minha adesão pessoal ao Acordo Ortográfico (AO) tem a ver simultaneamente com confiança e humildade. Confio na sabedoria de quem o fez (não na sua infalibilidade) e sou suficientemente humilde para reconhecer que muitos aspetos que dizem respeito à etimologia e à fonética, tais como outros menos relevantes para este caso, me escapam. Além da confiança e respeito por nomes como Lindley Cintra ou António Houaiss, de que não vejo muita gente comungar, mas antes desprezar, dediquei eu próprio algum tempo ao assunto. E, uma vez que faço da escrita a minha profissão há mais de 30 anos, penso ter algo a dizer.

Rodrigues Lapa, que foi um mestre da língua portuguesa, filólogo distinto, sustinha que as mudanças de ortografia eram sempre violentas. Esta asserção é hoje inteiramente justificada pela quantidade de pessoas que apenas se opõem ao Acordo 'porque sim' - sem quaisquer argumentos.

A verdade é que ninguém se conforma, depois de ter sido obrigado a pôr um p em ótimo, agora lhe dizerem que afinal esse p (no qual nunca encontrou utilidade) não faz falta. Há quem argumente com esse pai tirano, o latim, e com a etimologia da palavra optimus. A palavra sem o p perderá a identidade. Alguns enxofram-se e dizem que lhes matamos o português! Mas qual português, Santo Deus (ou melhor diria Sancto Deus?). O português do assucar ou do açúcar? O de Viseu ou Vizeu?

Philosophia, pharmacia ou phleugma também terão perdido essa identidade (para filosofia, farmácia e fleuma)? Ora, o facto de o phi grego deixar de se distinguir do f na grafia não me parece ter provocado dano ao idioma. Mas há, insistem, o problema do fechamento das vogais. Ou seja, a mania portuguesa (que não brasileira, angolana ou moçambicana) de comer as vogais. Este argumento é o que afirma que passaremos a dizer aspêto em vez de aspéto, uma vez que a retirada do c fecha a vogal. Pode parecer um argumento poderoso, mas não é. Não dizemos Mêlo desde que o apelido deixou de se escrever Mello (Vasconcellos ou Sampayo também se dizem do mesmo modo).

Reparem - e repare o excelente poeta e tradutor, a quem o texto é dedicado - que a forma de acentuar nada ou pouco tem a ver com o modo de escrever, mas sim com o modo de ouvir. Logo ele, que nasceu na Foz do Douro, bastava-lhe andar até à Ribeira para ouvir dizer Puârto e muitas outras coisas que foram morrendo com a voragem unificadora fonética da televisão. No norte dizia-se baca sendo a palavra com v; e o macho da baca era o voi apesar de lá estar um b. Mais estranho: em Lisboa sempre se disse contiúdo apesar do e, ao contrário de Coimbra e Porto onde se diz contêúdo. Em Lisboa, ôito, dezóito, vinte e ôito; no Porto, óito, dezôito e vinte e óito. E sempre se escreveu da mesma forma... Aliás, segundo a professora Maria Helena da Rocha Pereira, o fechamento das vogais pré-tónicas começou em Portugal em finais do século XVII ou princípios do século XVIII - ainda não havia acordos nenhuns.

Agora, se me perguntarem por que razão em 1911 pae passou a pai e mãi passou a mãe (como até hoje se escreve) não sei dizer, do mesmo modo que me irrita o espetador no acordo atual. Mas a propósito daqueles que juram que 'espetador' não distingue o que assiste a um espetáculo de um picador de gelo, refiro a frase: senti os pelos eriçarem-se pelos braços. E eis que toda a gente compreende onde está o quê. Ainda sobre confusões e fechamentos e aberturas de vogais, vejam a frase: 'Gosto particularmente do teu gosto' - quando a leem dizem (pelo menos os cultos, como o presidente do CCB) gósto e gôsto instintivamente. Como em 'Faz força e força aquela porta' sabem que primeiro é fôrça e depois fórça.

Permitam-me, ainda, referir que, durante a minha vida, sòzinho ou sòmente perderam o acento. Pois bem, nunca notei qualquer inflexão (para suzinho ou sumente) no modo de pronunciar aquelas e muitas outras palavras (advérbios de modo e diminutivos) a que aconteceu o mesmo.

Há ainda os que afirmam não gostar do acordo por razões estéticas. É aceitável. Mas a ortografia, sendo uma representação, não pode agradar a todos, e menos ainda reproduzir a pluralidade (e até pessoalidade) de pronúncias e modos de dizer. Exigi-lo seria como pedir a um pintor que pintasse o céu não como ele o vê, mas como cada um de nós, pessoalmente, o vê. Tarefa impossível.

Posto isto, o AO é importante porque aproxima da fonética uma série de palavras. E fá-lo, pela primeira vez, em função de um idioma que, sendo português, é também propriedade, matriz e identidade de outros povos e de outras latitudes. Cedemos? Não sei, nem me importa. Não quero uma língua para me distinguir do Brasil. Prefiro uma que me aproxime. E quem diz Brasil, que tem 200 milhões de falantes, diz naturalmente Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Timor.

Respeito o argumento de que a língua deve evoluir por ela, sem intervenção governamental. Creio, no entanto, que deve haver uma única e determinada ortografia nos manuais escolares e nos documentos. Ainda que cada escritor (como cada editora ou jornal) prefira o seu modo de escrever (Pessoa nunca respeitou o acordo de 1911), a ortografia escolar e oficial não pode ser espontânea nem à vontade do freguês. Acrescento que, curiosamente, nenhum de nós (ou quase) lê Pessoa (nem Eça, nem Camilo, nem sequer Aquilino ou Nemésio) na ortografia que os autores escolheram, assim como, apesar de usarmos a língua de Camões, há muito que não grafamos as palavras como ele ("Armas & os barões" ou "Occidental praya"). Quero com isto dizer que um jornal, uma editora, um escritor ou um Centro Cultural de Belém que não adira ao AO, ver-se-á, a breve prazo, a braços com uma escrita anacrónica... E um dia, tal como Pessoa ou Camões, será lido com a ortografia que então estiver em vigor.

Eis porque fui um dos entusiastas, na altura como diretor do Expresso, da utilização do AO nas publicações do Grupo Impresa. Eis porque não aceito que uma lei discutida durante mais de 20 anos seja constantemente colocada em causa. Ou que os opositores do AO esqueçam sistematicamente que a forma como escrevem resulta também de um AO imposto por lei.

Não vale a pena pensarmos que cada geração tem a pureza da grafia. O que pensar de Marco Túlio Tiro que, para poder transcrever os discursos de Cícero, abreviou diversas palavras com sinalética que até hoje usamos (etc., v.g., e.g.). Talvez o mesmo que muitos pensam das abreviaturas feitas pelos jovens nos telemóveis e redes sociais. E, no entanto, é a grafia que tem de estar ao serviço da comunicação - não o contrário.

Acirrar ânimos, insultar adversários, fazer juras solenes em torno de uma simples representação do nosso idioma faz-me lembrar aquele padre tio de Brás Cubas que o genial Machado de Assis (e não por acaso cito um autor brasileiro que devia ser mais lido em Portugal) descreve assim: "Não era homem que visse a parte substancial da igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepelizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia do que do altar. Uma lacuna no ritual excitava-o mais do que uma infração dos mandamentos". (E aqui, a palavra infração segue o modo como ele a escreveu... em 1881).

Defender que o fim das consoantes mudas altera o modo de acentuar as palavras é desconhecer que dizemos as palavras tal e qual as ouvimos dizer e não como as vemos grafadas. Só assim se explica a forma diferente de dizer inúmeras palavras, (como conteúdo, dezoito) a troca dos vês pelos bês ou a diferença entre lixo e fixo

Não lemos os autores portugueses com a ortografia que eles escolheram. De Camões a Pessoa, de Bernardim Ribeiro a Eça, todos são vulgarmente lidos na ortografia atualmente em vigor (e que vem essencialmente de 1911). A guerra em torno do Acordo é inútil, anacrónica e, sobretudo, nada tem a ver com uma mítica pureza da língua que é algo que nunca existiu

Ler mais:

http://aeiou.expresso.pt/o-acordo-20-anos-depois=f706306#ixzz1o6aiYglH

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A vingança de Tanatos

aaaTanatos (ou Tânatos) é o deus grego que personifica a Morte. Filho de Nix (a Noite, filha do Caos e da Destruição) e Érebo (as Trevas) e ainda irmão de Hipnos (o Sono), ele foi criado por Prometeu antes da criação da humanidade. O seu trabalho consistia em trazer súbditos para Hades, o Rei dos Mortos.

Tanatos está no nosso dia a dia. Em cada esquina, em cada rua, em cada casa, Tanatos reina. E nós, reles e simples mortais, tentamos enganá-lo. Tal qual como fez Sísifo (primeiro rei de Corinto) que, com astúcia e rebeldia, conseguiu derrotar e prende-lo, dando imortalidade aos humanos, durante algum tempo.

Como consequência, os homens não morriam, eram imortais. Até que, como em todas as histórias que opõem deuses e humanos, apareceu Ares (qual ‘mete-nojo’) que estragou o ‘arranjinho’. Ele libertou Tanatos e Sísifo foi condenado à morte e a descer aos infernos. Após a sua morte, o pobre Sísifo foi ainda condenado, como castigo por querer dar poderes divinos aos humanos, a rolar continuamente uma pedra montanha acima. Tarefa infrutífera, uma vez que chegado ao cume, a pedra rolava montanha abaixo e Sísifo tinha que repetir tudo novamente.

É assim como nos sentimos, nós, humanos. Somos todos Sísifos, somos todos simples mortais querendo enganar a Morte. Criamos remédios, investigamos, avançamos com a Medicina, descobrimos novas curas… E a Morte, célere, subtil e certeira, chega, qual vingança de Tanatos. Quer se chame SIDA, cancro ou outra coisa qualquer.

Tenho medo que o meu blogue se transforme numa espécie de muro de lamentações e elegias fúnebres, mas devo confessar que Tanatos tinha sido pouco assíduo na minha família até à data. Não é normal ser assim tão visitado pelo Senhor das Trevas. Ou será?

Vivemos com a ideia sempre presente da Morte.

Certeza número um: nascemos!

Certeza número dois: morremos!

Tudo aquilo que fazemos entre estas duas certezas é que nos irá distinguir entre os demais. Será aquilo que para todos se chama Memória. Ou Alma. Ou Nirvana. Ou Recordação, legado, herança…

Shakespeare no seu ‘Julio Cesar’ nos conta que, estando César perante um oráculo, este lhe lembra:

"Remember Caesar, thou art mortal" (‘Lembra-te, Cesar, tu és mortal’)

Sim, somos mortais. Sim, todos temos a nossa hora, todos morreremos.

Mas a brutalidade de me levar alguém com 59 anos, isso é que eu não compreendo lá muito bem. Mas deve ser porque sou Sísifo. Deve ser porque penso enganar a Morte…

Quero lá saber se depois de morto vou ter que carregar uma rocha montanha acima…

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Um ano = 365 dias de vazio imenso…

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Há um ano exato, tão suavemente como viveste, saíste da minha vida, numa noite fria, de inverno…

Nunca pude dizer-te tantas coisas, aquilo que foste para mim, o meu norte, o meu sul, o meu este, o meu oeste…

A maneira como me criaste, a tua vida, o teu exemplo baseado no respeito pelos outros, no amor à tua família, tudo isso ficou em mim como uma bússola que orienta os náufragos em mar de tempestade.

Por isso, Pai, te digo: um dia havemos de nos encontrar. Até lá.

O Pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda

sábado, 31 de dezembro de 2011

O meu ano de 2011

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Temi pela Educação em Portugal.

Passeei pelo Rio Sor.

Fotografei a minha cidade.

Perdi o meu pai.

Anunciaram o fim da CP em Ponte de Sor.

A minha cara metade fez anos.

A minha filha atingiu a maioridade.

Celebrei Martin Luther King.

Li uma crónica do Raúl Cóias.

Gostei e publiquei-a.

Prezei a Amizade, a verdadeira.

Ri-me com a tecnologia wireless.

Descobri o Facebook.

O meu blogue fez dois anos.

Sofri pelo Benfica.

O Sócrates era cada vez mais uma anedota.

Os nossos Correios tornavam o absurdo em normalidade.

Devia ter reclamado e não o fiz.

Apaixonei-me cada vez mais pela Fotografia.

Fotografava tudo a toda a hora.

Continuava curioso.

Continuava vivo.

Persegui um arco-iris.

Descobri um duplo (My God, a double rainbow...)

Admirei-me pela renovação constante da Internet.

Fotografei a minha cidade.

Passeei por Coimbra.

Visitei a Lituânia. E a Letónia.

Fui ao Porto. O batizado do Gabriel.

A minha profissão continuava a dececionar-me cada vez mais.

Mas adorava os meus alunos.

Fiz uma sardinhada. E fui a Tomar.

Quase me perdi no meio da Festa dos tabuleiros.

E fui escrevendo cada vez menos no blogue.

Celebrei as Festas da Cidade.

Orgulhei-me de ver a minha filha na Orquestra.

Em Agosto fui ao Algarve. E à Figueira da Foz.

Fui às Festas do Crato. E às de Campo Maior.

Visitei Marvão com amigos.

Morreu o Raul Cóias.

Vi que algumas pessoas que prezo eram hipócritas.

Fui a Santiago de Compostela e enganei o tempo.

Deliciei-me com o Cirque du Soleil.

Fui à ‘Catedral’ com o Janeca.

Sobrevivi a mais um ano, na companhia daqueles que amo.

Digam lá se isto não é bom!

E estou à espera de um novo, prontinho para estrear!

Que venha 2012!!!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Para os meus amigos que estão com a “doença da época”…

 

«Todos Os Homens São Maricas Quando Estão Com Gripe»

(António Lobo Antunes)

 

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Pachos na testa
Terço na mão
Uma botija
Chá de limão
Zaragatoas
Vinho com mel
Três aspirinas
Creme na pele
Dói-me a garganta
Chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer
Mede-me a febre
Olha-me a goela
Cala os miúdos
Fecha a janela
Não quero canja
Nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes
Não vales nada
Se tu sonhasses
Como me sinto
Já vejo a morte
Nunca te minto
Já vejo o inferno
Chamas diabos
Anjos estranhos
Cornos e rabos
Tigres sem listas
Bodes de tranças
Choros de corujas
Risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes
Que foi aquilo
Não é a chuva
No meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes
Fica comigo
Não é o vento
A cirandar
Nem são as vozes
Que vêm do mar
Não é o pingo
De uma torneira
Põe-me a santinha
À cabeceira
Compõe-me a colcha
Fala ao prior
Pousa o Jesus
No cobertor
Chama o doutor
Passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes
Nem dás por nada
Faz-me tisanas
E pão de ló
Não te levantes
Que fico só
Aqui sózinho
A apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer

sábado, 10 de dezembro de 2011

Ainda a propósito dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor (II)

 

Onde estavas no 25 de Abril de 74?

Esta pergunta era frequentemente feita numa rábula do Herman José, na altura em que ele até tinha piada…escuta

No dia 25, não sei precisar bem, pois não houve nada que me marcasse em concreto nesse dia (além dos acontecimentos do dia, mas isso já é outra história…) Quanto ao dia 21 de Abril, aí a coisa já fia mais fino. Estava num acampamento em Abrantes, na Mata de São Lourenço, por detrás do então Regimento de Infantaria de Abrantes. O acampamento teve a participação de alguns Agrupamentos de Portalegre, Castelo Branco e Santarém. E tivemos uma novidade enorme, para nós, que sempre nos desenrascámos sem precisas da ajuda de ninguém (o Escuta é desenrascado, lembram-se? 11º mandamento da Lei do Escuta…)

As nossas cozinhas, que se situavam junto a cada canto de Patrulha, eram sempre motivo para competição saudável. Por vezes lume de chão, outras tipo forno, elas eram como que o espelho onde toda a atividade da Patrulha se revia. O Cunha, o nosso cozinheiro, rapaz de grandes conhecimentos pantagruélicos (não é ironia, não senhor…), era o responsável dos nossos estômagos… Mas nesse acampamento houve uma novidade: o Regimento resolveu obsequiar-nos com um almoço, todo modernaço, naquelas cozinhas de campanha, todas XPTO para a época… Lembro-me daquela feijoada, que nos soube melhor que ginjas… Mas sendo feijoada, já sabem que as consequências foram menos agradáveis, mas adiante.

Na exposição a decorrer no Centro de Artes e Cultura existe uma placa que foi oferecida à Patrulha Pombo como prémio pelo 2º lugar no nosso raide, que compreendeu as localidades de Abrantes, Alferrarede e Tramagal. Devo dizer que as Patrulhas de Ponte de Sor ‘paparam’ os prémios todos de todas as atividade. No Jogo de cidade fomos 1ºs, no raide 2ºs (a ‘nossa’ Patrulha Lobo ficou em 1º)…

Um ano depois, em 75, realizaram-se as Primeiras Eleições Livres em Portugal. Na cidade de Ponte de Sor foi-nos pedido que ajudássemos as pessoas a encaminharem-se para as assembleias de voto e foram colocadas mesas junto das mesmas. As assembleias funcionavam nas Escolas Primárias junto à Igreja, nas Primárias da Rua Garibaldino de Andrade e na Casa do Povo, salvo erro.

Aquilo é que foi trabalhar! Lembro-me que eu fiquei nas Primárias junto à igrejaFLOR DE LIZ -ESCUTISMO… Bem cedo, pelas 7 e meia (acho que as urnas abriam às 8, nessa época) lá estávamos nós, numa mesa e com o conjunto de editais, com os nomes de toda a gente para indicarmos qual o sítio, qual a mesa… Filas e mais filas de gente! No Largo da Igreja tratámos de organizar as pessoas, que formavam uma mole organizada, mas muito longa, quase dando uma volta à igreja!

E houve aquele episódio, que provocou risos e alguma incompreensão nalgumas pessoas ligadas a partidos menos… tolerantes. Frutos do PREC! Uma velhota chegou-se a nós e perguntou:

- Oh meninos, onde é que eu voto socialmente?

Nós, olhando um para o outro, dissemos:

- Minha senhora, a senhora vote em quem quiser, mas tem é que nos dizer o nome para nós lhe dizermos em que mesa vai votar!

A inocência dos nossos 15 anos não nos permitiu ver aquilo que mentes mais obscuras quiseram ouvir, ou seja, que estaríamos a indicar a alguém em que partido votar. A queixa foi feita, mas não deu em nada, pois aquilo foi somente aquilo que foi: um grupo de jovens tentando, à sua maneira, ajudar os mais idosos que, só na sua idade madura, estariam a experimentar pela primeira vez, o prazer de poderem votar em liberdade!

Enfim, paranóias do PREC, pois não nos podemos esquecer que estávamos em 1975, naquele que viria a ser conhecido como o Verão Quente!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Nos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor (I)

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Na vida de uma pessoa, na sua formação enquanto Ser Humano e pensante, há opções que se fazem que, para o melhor e para o pior, condicionam o seu futuro. Sempre assim foi e sempre será, com certeza.

Na minha formação e educação como Homem, houve algo que apareceu, digamos, na hora certa. Entre os anos de 1972 e 1978 fui Escuteiro. (bem, como dizem os entendidos, e com razão, «uma vez escuteiro, escuteiro para toda a vida», por isso posso dizer, parafraseando John Kennedy, «Eu Sou Um Escuteiro!»)

Tinha 12, talvez 13 anos quando abracei a causa escutista, no Agrupamento 101, de Ponte de Sor. Era um rapaz calmo, como qualquer jovem daquela idade. Gostava de futebol, adorava jogar à bola no Largo da Igreja… Era uma atividade bem… digamos, ativa, pois não poucas vezes tivemos de correr à frente da GNR, que nos apreendia as bolas e ameaçava com isto e aquilo! Ou do saudoso Padre Frederico, que recordo com alguma bonomia, mas que não era lá muito flor que se cheire, pois à nossa conta deve ter construído uma enorme coleção de bolas de futebol de todos os tipos, tamanhos e feitios. E obrigou-nos a esgotar o stock de bolas de plástico, de cautchú, de borracha, que Ponte de Sor tinha!

Mas não me quero perder daquilo a que me propus, falar dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor. E para falar nisso… Ui, tantas e tantas histórias que queria contar, mas a verve literária não é lá muito famosa e não vos quero aborrecer com palavras ocas e despidas de sentido.

Como começar? Fui, ao longo dos anos, membro, Guia e Subguia da famosa Patrulha Pombo. Como tal, adorava as reuniões de sexta feira à noite, onde os Chefes, Guias e Subguias de todas as Patrulhas se reuniam e delineavam as tarefas a executar no dia seguinte. As reuniões eram na sede, uma casa velha mas que adorávamos, situada na Rua Vaz Monteiro (que curiosamente foi mais tarde comprada pelo meu pai para construir a nossa casa e onde construiu o primeiro salão de jogos de Ponte de Sor, o Sojogos), emprestada pela D. Margarida Vaz Monteiro.bp1

Fecho os olhos e consigo ver a sede. Uma sala grande (se considerarmos grande uma sala de 3 por 4 metros…), com lareira, uma outra sala, um quintal, com uns velhos matraquilhos... Um luxo! Para muitos de nós, era como uma segunda casa.

Todos sábado lá estávamos nós, na sede e fardados, prontos para uma saída ao campo, um jogo de cidade, um raide ou qualquer atividade de solidariedade, que na altura não se chamava solidariedade, mas sim qualquer outra coisa. O que interessava era que conseguíamos transmitir os ensinamentos do pai do Escutismo, Lord Baden Powell, fazer o Bem e «deixar o Mundo um pouco melhor do que o encontrámos».

Lembro-me do «núcleo» do Escutismo nessa altura. Havia os Lobitos (que hoje são homens feitos, alguns com filhos Escuteiros também), havíamos nós, os Exploradores e os mais velhos, os Caminheiros. Acima destes tínhamos os Chefes: o Chefe Rosa, pessoa austera mas capaz de um sorriso e de uma piada na hora certa, e o Chefe Jaime, o nosso líder, o nosso guru, o nosso ídolo.

Nos Caminheiros, lembro-me do Luciano, das Galveias, do Jorge Mendes, do Albuquerque, do Carita e do saudoso Zé Luis «Pig», o nosso irmão mais velho, o nosso guardião, infelizmente tão cedo desaparecido. Nos Exploradores, havia sempre alguma rivalidade entre as duas patrulhas mais antigas: a Patrulha Lobo e a minha, a Patrulha Pombo.

Da Patrulha Pombo, lembro-me do Pedro Rosa, do Filipe (o que será feito dele?), do Garolas, do Feiteira, do Cunha, do Luis Fernando... Da Patrulha Lobo tínhamos o Jorge «Cebola», o Carlos Boléu, o Pedro Bairrão, o Zé «da Ford», o Jorge «Batatinha», o Zé Luis Bucho, o Vieira... Havia outros mais e outras Patrulhas, mas a memória já vai deixando algumas coisas desvanecerem-se na bruma dos tempos e por isso peço desculpa aos que não mencionei.

E tudo isto a propósito dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor... E do lançamento do livro «Memória e Desafio», no passado sábado, 3 de dezembro, razão para desfolhar memórias e recordações daqueles tempos lindos de 73, 74, 75...

Vou tentar escrever mais outras coisas da época, do que o Escutismo significou para mim: do Acampamento da Fraternidade, da ida às 7 da manhã dar café ao pessoal que ia nos comboios para Lisboa, no Padre Fernando Farinha, do prazer que era a saída para o campo, do montar a tenda, da ajuda nas primeiras eleições livres no nosso país...

domingo, 20 de novembro de 2011

In Memoriam…

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«Já havia flores no campo. Frágeis, cintilantes, coloridas, sorrindo ao sabor da brisa…» (Raul Cóias Dias)

O Raul Cóias já não está entre nós.

Hoje de manhã soube a notícia, estúpida, violenta, inútil, desnecessária, como estúpidas, violentas, inúteis e desnecessárias são as notícias que nos trazem a morte de alguém.

O Cóias, que me deu o privilégio de com ele trocarmos ideias e de ser meu amigo, perdeu a batalha com aquela amante violenta, aditiva, estúpida e implacável, que lhe fez parar o coração e levá-lo para uma outra dimensão.

O Raul Cóias já não está entre nós.

O céu alegra-se: tem mais uma estrela, brilha com tanta intensidade, que faz as outras tremer de inveja… O Cóias, na sua humildade, inteligência e simplicidade, sorri. E vela por nós!

Descansa em paz, Raul.

«E era assim todos os anos, desde o princípio dos tempos, desde que do caos se fez luz, luz viva como um mistério, suave como um milagre, de que o homem é apenas uma minúscula centelha, uma frágil faiúncula, um reflexo fugaz.» (Raul Cóias Dias)

026 Conferência

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Recordações de Galaţi (Roménia)

Foi com alguma alegria que soube que o Benfica iria jogar a Galaţi (lê-se "Galatz") para a Liga dos Campeões, onde defrontaria o Otelul Galaţi, cidade que eu visitei em Outubro do ano passado.Galaţi

Conhecendo Galaţi como eu a vi, logo imaginei que o clube vencedor do campeonato romeno não teria as condições de receber a milionária Champions League, uma vez que a Roménia começa agora a renascer lentamente duma crise que ainda assola toda a Europa.

A solução? Jogar em Bucareste, capital e cidade mais… europeia e habituada a estas andanças da Liga dos Campeões.101011 1061 Roménia

Galaţi fica a cerca de 250 km de Bucareste, lá nos confins da Roménia oriental, paredes meias com a Moldova e a Ucrânia. Para lá chegar, para aqueles que vão por estrada, temos uma… auto-estrada com cerca de 100 km, ficando o resto do caminho por estradas mais… rurais, com todo o tipo de viaturas que possam imaginar. Carroças, carrinhos de mão (!), o que quiserem imaginar!

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A escola onde trabalhámos é uma escola de Excelência, com alunos interessadíssimos, onde pontificam alguns detentores de medalhas de ouro nas Olimpíadas da Matemática, por exemplo.

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Quanto à cidade, está umbilicalmente ligada com o Rio Danúbio, tendo como base da sua economia a industria da transformação do aço, onde pontifica a Arcelor Mittal, um dos gigantes do mundo do aço e que nós visitámos:

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Enfim, de tudo isto, o que mais nos fica na retina é a simpatia com que os romenos nos receberam, num país onde o nível de vida é algo elevado para os locais (ainda no ano passado os professores viram o seu vencimento reduzido em 25%…) mas onde se pode almoçar por 10 lei, qualquer coisa como 2,50 euros…

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O Danúbio não é tão azul assim, mas é uma autêntica estrada para as barcaças que, num contínuo interminável, transportam o minério de ferro para as fábricas de transformação de aço.

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Os mercados de Galati são uma autêntica palete de cores e cheiros, onde se encontra sempre um sorriso no meio de tantas caras tisnadas do sol e de tanto trabalho.

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E tudo isto por causa do futebol…

Aqui vão mais umas fotos, se por acaso quiserem dar uma saltada até lá! (Digam que vão da minha parte…)

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À vossa! E que o Benfica ganhe!!! SEMPRE!