Na vida de uma pessoa, na sua formação enquanto Ser Humano e pensante, há opções que se fazem que, para o melhor e para o pior, condicionam o seu futuro. Sempre assim foi e sempre será, com certeza.
Na minha formação e educação como Homem, houve algo que apareceu, digamos, na hora certa. Entre os anos de 1972 e 1978 fui Escuteiro. (bem, como dizem os entendidos, e com razão, «uma vez escuteiro, escuteiro para toda a vida», por isso posso dizer, parafraseando John Kennedy, «Eu Sou Um Escuteiro!»)
Tinha 12, talvez 13 anos quando abracei a causa escutista, no Agrupamento 101, de Ponte de Sor. Era um rapaz calmo, como qualquer jovem daquela idade. Gostava de futebol, adorava jogar à bola no Largo da Igreja… Era uma atividade bem… digamos, ativa, pois não poucas vezes tivemos de correr à frente da GNR, que nos apreendia as bolas e ameaçava com isto e aquilo! Ou do saudoso Padre Frederico, que recordo com alguma bonomia, mas que não era lá muito flor que se cheire, pois à nossa conta deve ter construído uma enorme coleção de bolas de futebol de todos os tipos, tamanhos e feitios. E obrigou-nos a esgotar o stock de bolas de plástico, de cautchú, de borracha, que Ponte de Sor tinha!
Mas não me quero perder daquilo a que me propus, falar dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor. E para falar nisso… Ui, tantas e tantas histórias que queria contar, mas a verve literária não é lá muito famosa e não vos quero aborrecer com palavras ocas e despidas de sentido.
Como começar? Fui, ao longo dos anos, membro, Guia e Subguia da famosa Patrulha Pombo. Como tal, adorava as reuniões de sexta feira à noite, onde os Chefes, Guias e Subguias de todas as Patrulhas se reuniam e delineavam as tarefas a executar no dia seguinte. As reuniões eram na sede, uma casa velha mas que adorávamos, situada na Rua Vaz Monteiro (que curiosamente foi mais tarde comprada pelo meu pai para construir a nossa casa e onde construiu o primeiro salão de jogos de Ponte de Sor, o Sojogos), emprestada pela D. Margarida Vaz Monteiro.
Fecho os olhos e consigo ver a sede. Uma sala grande (se considerarmos grande uma sala de 3 por 4 metros…), com lareira, uma outra sala, um quintal, com uns velhos matraquilhos... Um luxo! Para muitos de nós, era como uma segunda casa.
Todos sábado lá estávamos nós, na sede e fardados, prontos para uma saída ao campo, um jogo de cidade, um raide ou qualquer atividade de solidariedade, que na altura não se chamava solidariedade, mas sim qualquer outra coisa. O que interessava era que conseguíamos transmitir os ensinamentos do pai do Escutismo, Lord Baden Powell, fazer o Bem e «deixar o Mundo um pouco melhor do que o encontrámos».
Lembro-me do «núcleo» do Escutismo nessa altura. Havia os Lobitos (que hoje são homens feitos, alguns com filhos Escuteiros também), havíamos nós, os Exploradores e os mais velhos, os Caminheiros. Acima destes tínhamos os Chefes: o Chefe Rosa, pessoa austera mas capaz de um sorriso e de uma piada na hora certa, e o Chefe Jaime, o nosso líder, o nosso guru, o nosso ídolo.
Nos Caminheiros, lembro-me do Luciano, das Galveias, do Jorge Mendes, do Albuquerque, do Carita e do saudoso Zé Luis «Pig», o nosso irmão mais velho, o nosso guardião, infelizmente tão cedo desaparecido. Nos Exploradores, havia sempre alguma rivalidade entre as duas patrulhas mais antigas: a Patrulha Lobo e a minha, a Patrulha Pombo.
Da Patrulha Pombo, lembro-me do Pedro Rosa, do Filipe (o que será feito dele?), do Garolas, do Feiteira, do Cunha, do Luis Fernando... Da Patrulha Lobo tínhamos o Jorge «Cebola», o Carlos Boléu, o Pedro Bairrão, o Zé «da Ford», o Jorge «Batatinha», o Zé Luis Bucho, o Vieira... Havia outros mais e outras Patrulhas, mas a memória já vai deixando algumas coisas desvanecerem-se na bruma dos tempos e por isso peço desculpa aos que não mencionei.
E tudo isto a propósito dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor... E do lançamento do livro «Memória e Desafio», no passado sábado, 3 de dezembro, razão para desfolhar memórias e recordações daqueles tempos lindos de 73, 74, 75...
Vou tentar escrever mais outras coisas da época, do que o Escutismo significou para mim: do Acampamento da Fraternidade, da ida às 7 da manhã dar café ao pessoal que ia nos comboios para Lisboa, no Padre Fernando Farinha, do prazer que era a saída para o campo, do montar a tenda, da ajuda nas primeiras eleições livres no nosso país...