sábado, 10 de dezembro de 2011

Ainda a propósito dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor (II)

 

Onde estavas no 25 de Abril de 74?

Esta pergunta era frequentemente feita numa rábula do Herman José, na altura em que ele até tinha piada…escuta

No dia 25, não sei precisar bem, pois não houve nada que me marcasse em concreto nesse dia (além dos acontecimentos do dia, mas isso já é outra história…) Quanto ao dia 21 de Abril, aí a coisa já fia mais fino. Estava num acampamento em Abrantes, na Mata de São Lourenço, por detrás do então Regimento de Infantaria de Abrantes. O acampamento teve a participação de alguns Agrupamentos de Portalegre, Castelo Branco e Santarém. E tivemos uma novidade enorme, para nós, que sempre nos desenrascámos sem precisas da ajuda de ninguém (o Escuta é desenrascado, lembram-se? 11º mandamento da Lei do Escuta…)

As nossas cozinhas, que se situavam junto a cada canto de Patrulha, eram sempre motivo para competição saudável. Por vezes lume de chão, outras tipo forno, elas eram como que o espelho onde toda a atividade da Patrulha se revia. O Cunha, o nosso cozinheiro, rapaz de grandes conhecimentos pantagruélicos (não é ironia, não senhor…), era o responsável dos nossos estômagos… Mas nesse acampamento houve uma novidade: o Regimento resolveu obsequiar-nos com um almoço, todo modernaço, naquelas cozinhas de campanha, todas XPTO para a época… Lembro-me daquela feijoada, que nos soube melhor que ginjas… Mas sendo feijoada, já sabem que as consequências foram menos agradáveis, mas adiante.

Na exposição a decorrer no Centro de Artes e Cultura existe uma placa que foi oferecida à Patrulha Pombo como prémio pelo 2º lugar no nosso raide, que compreendeu as localidades de Abrantes, Alferrarede e Tramagal. Devo dizer que as Patrulhas de Ponte de Sor ‘paparam’ os prémios todos de todas as atividade. No Jogo de cidade fomos 1ºs, no raide 2ºs (a ‘nossa’ Patrulha Lobo ficou em 1º)…

Um ano depois, em 75, realizaram-se as Primeiras Eleições Livres em Portugal. Na cidade de Ponte de Sor foi-nos pedido que ajudássemos as pessoas a encaminharem-se para as assembleias de voto e foram colocadas mesas junto das mesmas. As assembleias funcionavam nas Escolas Primárias junto à Igreja, nas Primárias da Rua Garibaldino de Andrade e na Casa do Povo, salvo erro.

Aquilo é que foi trabalhar! Lembro-me que eu fiquei nas Primárias junto à igrejaFLOR DE LIZ -ESCUTISMO… Bem cedo, pelas 7 e meia (acho que as urnas abriam às 8, nessa época) lá estávamos nós, numa mesa e com o conjunto de editais, com os nomes de toda a gente para indicarmos qual o sítio, qual a mesa… Filas e mais filas de gente! No Largo da Igreja tratámos de organizar as pessoas, que formavam uma mole organizada, mas muito longa, quase dando uma volta à igreja!

E houve aquele episódio, que provocou risos e alguma incompreensão nalgumas pessoas ligadas a partidos menos… tolerantes. Frutos do PREC! Uma velhota chegou-se a nós e perguntou:

- Oh meninos, onde é que eu voto socialmente?

Nós, olhando um para o outro, dissemos:

- Minha senhora, a senhora vote em quem quiser, mas tem é que nos dizer o nome para nós lhe dizermos em que mesa vai votar!

A inocência dos nossos 15 anos não nos permitiu ver aquilo que mentes mais obscuras quiseram ouvir, ou seja, que estaríamos a indicar a alguém em que partido votar. A queixa foi feita, mas não deu em nada, pois aquilo foi somente aquilo que foi: um grupo de jovens tentando, à sua maneira, ajudar os mais idosos que, só na sua idade madura, estariam a experimentar pela primeira vez, o prazer de poderem votar em liberdade!

Enfim, paranóias do PREC, pois não nos podemos esquecer que estávamos em 1975, naquele que viria a ser conhecido como o Verão Quente!

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