XIII Tipos de Perfis de Professores (o IX não conta)
Ao ler o último post minha colega, taliban da educação, fez-me reflectir ad profundis (o latim é sempre algo de bonito e quem não pesca nada de linguas mortas, diz para consigo"Aquele Pica-Mula é deveras culto e tal...") sobre as diferentes funções/hábitos/máscaras (no sentido teatral) da digníssima profissão de docente... Então, cá vamos:
i) O Professor-Freud - psicanalista, ouve em confessionário (se for DT e não só...) alunos, colegas, encarregados de educação sobre as contingências da vida de todos os envolvidos no famoso processo, seja isso o que for, de ensino-aprendizagem e no fim prescreve a sua receita para o sucesso escolar;
ii) O Professor-Freira - cheio de ética, transpira Platão e Cristo, pelo poros: a escola é sagrada, as aulas são um templo, o CD - um santo e os colegas os seus cruzados. Nunca faz greve, entrega sempre tudo dentro dos prazos e nunca diz palavrões;
iii) O Professor-Muita-Fixe (variante Professor-Palhaço) - nunca prepara as aulas, nunca lecciona aulas, nunca tem problemas na aula e todos os alunos têm aproveitamento e é um verdadeiro entretainer (um anglicismo fica sempre bem);
iv) O Professor-Folgado - distraído ou incompetente por natureza: perde os papéis e para o CD (isto, se este for benevolente) não lhe levantar um processo disciplinar, não lhe atribui qualquer tipo de cargo: não é DT, Coordenador, está sempre de baixa, etc (vagueia no pátio da escola, para fumar às escondidas);
v) O Professor-Verdinho - novo na profissão, contratado por natureza, tudo lhe parece novo: colegas, auxilares e discentes - deslumbra-se com um simples arroto de um aluno mal comportado, do 6º ano;
vi) O Professor-Muita-Ocupado - Coordenador, assessor das mijas, sempre com muitas fichas e testes para corrigir e mesmo que não tenha nada para fazer, diz sempre:"Estou cheio de trabalho, não me perturbem!", puxando, ao mesmo tempo, tragicamente, os cabelos! Ah, além disso, organiza todos os eventos escolares (variante Professor-Organizador-de-Eventos);
vii) O Professor-Tótó - mal vestido, com os pêlos do nariz a saírem da narinas que mais parecem brócolos, cheio de tiques, gozado por todos, com saídas inconvenientes para com as colegas do sexo feminino. Todos os alunos copiam nos testes;
viii) A Prof-Muita-Sexy - sente-se lambida visualmente pelo Professor-Tótó, Mata-Hari da sala dos professores, todos os rapazes vão às suas aulas, veste Prada da Chinatown e tem de Avaliação de Desempenho Docente - Muito Bom (todos os professores querem estar presentes nas suas aulas assistidas);
ix) O Electricista-a-fazer-se-de-professor-gestor-e-de-DR. (Private Joke - vocês sabem que eu sei de quem se trata, obviamente aqueles que sabem);
x) O Professor-Sabático: cheio de teses, cientifico-pedagógicas avançadas, cheio de mesuras e poses e sentenças. Narcísico, por natureza, utiliza uns palavrões das Neo-Pedagogias-da-Treta ou mostra o seu saber científico aos seus pares, de forma transbordante, numa falta de humildade, quase provocadora!;
xi) O Professor-Suissinho - dá-se bem com todos (nunca fala mal nas costas), incolor, inodoro, quase beato de Fátima... No fundo... um Mete-Nojo (no sentido de tristeza, no fim de contas é um triste solitário). Não se compromete com ninguém, mas quando precisar, ninguém o apoia - mais preocupado em salvar o seu umbiguinho;
xii) O Professor-Segurança-Social, tem normalmente a função de DT, todas as ovelhas do seu rebanho são incólumes e os professores que chumbam são os maus-da-fita!;
xiii) O professor-Mau-da-Fita (mas só a fingir), chumba no primeiro período, a torto e a direito; prepara as aulas, os alunos detestam-no, mas no fundo ele tem que sucumbir à pedagogia de sucesso do ME e passa-os a todos no último período;
xiv) O Professor-Normal: lecciona as suas aulas normalmente, trabalha de forma regular, cumpre normalmente o seu dever, tem outros gostos para além da escola, gosta de estar em família, respeita, respeita-se e é respeitado;
Sinceramente, acho que todos nós, aqueles que são licenciados/profissionalizados, temos cá dentro, da nossa pele de professor, quase todos estes perfis que emergem pontualmente de forma descompensada. Estes surgem à tona do nosso Ego, periodicamente, ao longo de cada ano lectivo - o Professor-Normal é apenas um arquétipo utópico (lá, estou eu, com as minhas manias de Professor-Sabático!!!).
2 comentários:
Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.
Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.
De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila – oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude.
Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas…
Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».
Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?
É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes.
É este o Portugal dos nossos filhos.
Mergulhada em PCAs, PCTs, PAAs e outros semelhantes, soube ontem que há dois meses que a mãe de um aluno o abandonou e aos seus 3 irmãos na rua. O meu aluno tem dormido em casa de um colega, os irmãos dormem na rua.
Pois...
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