Há um ano exato, tão suavemente como viveste, saíste da minha vida, numa noite fria, de inverno…
Nunca pude dizer-te tantas coisas, aquilo que foste para mim, o meu norte, o meu sul, o meu este, o meu oeste…
A maneira como me criaste, a tua vida, o teu exemplo baseado no respeito pelos outros, no amor à tua família, tudo isso ficou em mim como uma bússola que orienta os náufragos em mar de tempestade.
Por isso, Pai, te digo: um dia havemos de nos encontrar. Até lá.
O Pai
Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.
Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.
Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.
Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.
Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...
E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.
Pablo Neruda
2 comentários:
Olá Rafael,
e só hoje soube disso.
O que lamento com uma lágrima nos olhos, como certamente lamentas-te a minha perda.
Um grande e forte abraço.
Luís Virgílio Pereira
Bonita Homenagem Professor! Os ultimos tempos nao tem sido faceis para si, mas a força dos homens reside na atitude...!! Um grande abraço.
Alberto Pita
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