terça-feira, 10 de abril de 2012

Festa da Salgueirinha, outros anos…

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Era fatal: a Segunda Feira de Páscoa era o dia da Festa da Salgueirinha, ou muito simplesmente o Dia da Salguerinha.

Todas as famílias (e não exagero quando digo “todas”) faziam os seus farnéis e zarpavam em direção da Salgueirinha, onde a música já tocava.

Sei que não era um dia fácil para a minha mãe, uma vez que tinha a Casa das Iscas à sua responsabilidade, a ela e só ela, porque o meu pai era um dos membros do grupo musical que abrilhantava a festa, o Conjunto Sor Ritmo.

 

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Fazer o farnel para toda a família (e para o resto da família e muitos amigos que se juntavam ao grupo, uma vez que os cozinhados da minha mãe eram conhecidos em todo o lado…) era uma trabalheira e conseguir arranjar toda a parafernália de louça, comida, bebida, enfim, tudo aquilo para tornar a festa em algo para nos recordarmos para sempre, era algo que lhe dava um certo prazer, confesso.IMG_1684

Ponte de Sor ficava praticamente deserta! O comércio fechado, os cafés fechados… Lembro-me que, uma vez, tive que vir ‘cá abaixo’ buscar qualquer coisa a casa e fiquei arrepiado com tão pouca gente que circulava na então vila.

«Tempora mutantur», já diziam os antigos. Os tempos mudaram e as coisas evoluíram. Para melhor? Cada um lá terá a sua opinião, mas a consequência do avanço do progresso foi a destruição duma festa, dum símbolo da união das famílias pontessorenses. Aquela segunda feira de Páscoa era o inevitável ponto de encontro dos naturais de Ponte de Sor, que aproveitavam para visitar a família, os amigos…

Hoje fui até à Salgueirinha. O Rancho do Sor está a fazer um trabalho memorável na revitalização de festas, romarias e festejos que marcaram os tempos de antanho. Foram as Festas de Agosto, substituídas pelas sensaboronas Festas da Cidade, é agora a Festa da Salgueirinha…

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Hoje fui até à Salgueirinha. E fiquei triste. Triste como quando se fica a observar o nosso filho, crescido, recordando-nos aquela criança, aquele bebé que um dia cresceu e ganhou voz própria.

A Salgueirinha já não tem voz própria. Já não se vêem as famílias com os farnéis, já não temos «os comboios a passarem», como diz a canção. Já não temos os risos das crianças, os gelados do Zé das Sardinhas… Já não temos o Sor Ritmo, já não tenho o meu pai que, sorrindo, me dizia «Vai avisar a mãe que vamos tocar para o rancho e tenho aí cinco amigos que vão comigo»…

«Ele gosta de mamar nos peitos da cabritinha»… Com esta melodia cheguei, com ela parti, nem cinco minutos lá consegui ficar. Deu-me pena, deu-me muita pena. O espaço é o que se sabe, exíguo e estreito. Conseguiram castrar o que a Salgueirinha tinha de belo: o espaço, as encostas onde as famílias de instalavam, até se perder de vista. Mas hoje havia lugar para muita gente. O organista Nuno Florindo tentava puxar mais gente para a dança, mas contei cinco pares a dançar, enquanto uns bebericavam uma mini, outros compravam algodão doce ou pipocas… Poucos. Muito poucos!

«Fruta ó chocolate», apregoava o ti Zé das Sardinhas… Mas os tempos estão mais para os «peitos da cabritinha»… Questão de escolhas!

1 comentário:

Raquel disse...

Pois é, caro Rafael. Eu nunca soube ao certo o que era a Salgueirinha. Obrigada pelo relato. Para o ano que vem prometo estar mais atenta!!! O mais próximo da "Salgueirinha" que consegui, foi pegar nos pequenos, desafiar uma amiga com os seus três filhos, levarmos a cesta, a toalha e o lanche farnel, e fazermos piquenique junto da Ribeira, ao Pe. De um antigo moinho que muitos pontesdorenses dizem nao conhecer. E finalizar o dia a comer frango na festa da Tramaga... Eu vou tentando avivar as tradições, mesmo nao sendo as minhas.... Beijinhos