Ao folhear o Expresso desta semana, deparei com uma notícia que me deixou um pouco perplexo. Ora “esguardae”:
«Maria triplicou o vencimento mensal sem mudar de funções nem de patrão. Professora do Ensino Básico, num grupo disciplinar com poucos docentes, só teve de trocar de escola e passar a guiar diariamente mais 40 quilómetros.»
(para quem, como eu, trabalha em Ponte de Sor, seria o mesmo que ir trabalhar para o Gavião, por exemplo. Mas deixemo-nos de “supônhamos” e continuemos a notícia)
«A distância não a incomoda. Esta foi, aliás, apenas mais uma das “colocações” do quadro da escola a que pertence para outro quadro de outra escola, também do Estado, com acréscimo salarial. O mecanismo é sempre o mesmo: põe uma licença sem vencimento de longa duração (por dez anos) na origem e faz um contrato (individual de trabalho ou de prestação de serviços) no destino, em que é paga de forma mais favorável.»
(está-lhe a crescer água na boca, caro leitor? Então continuemos)
«”Primeiro fui convidada por esta escola para fazer três tardes de aulas – ganhava mais do que o meu salário base – e depois para ficar a tempo inteiro, com horário completo de 35 horas e um salário base de €5 mil”. A professora diz que “é o mercado a funcionar” e que os ordenados foram propostos pelos próprios directores.»
«A dualidade de vínculo está prevista desde 2005 – quando foram criadas as escolas-empresas – e, garantem os directores, é utilizada por estar em causa a prestação de serviço à população. Os professores abrangidos são “pessoas chave” e este mecanismo evita que “sejam aliciados para o sector privado e, ao saírem, colocarem em causa a qualidade, justificou o Agrupamento XPTO quando se soube que oito professores pediram licença e a seguir assinarem contratos bem pagos na mesma unidade.»
(e a história continua…)
«Maria meteu a primeira licença em 1998. “Fui para outra escola ganhar mais 15% mas o que me fez mudar foi o modelo de gestão mais dinâmico”. O contentamento durou 5 anos. “A escola entrou em degradação com uma pressão na procura que me obrigava dar oito horas de aulas”. Como a visão da Educação de Maria não é a “produção”, – “o professor tem de procurar fazer o seu percurso com as condições mais adequadas” –, voltou a mudar.»
«Regressou à escola de origem, depois saiu por três meses para uma escola no Norte e a seguir para outra, sempre dentro do Ministério. “Foi feito um contrato de empréstimo entre a minha escola e outra, que cobria a diferença de ordenado, que era mais do dobro”. Um ano e meio depois, regressou ao ponto de partida, onde esteve até à actual colocação. Ainda assim, garante que o seu exemplo não é comum. “A maioria dos meus colegas acumula público com privado”.»
E fiquemo-nos por aqui.
Surpreso? Incrédulo?
Claro que sim, esta é uma história inventada aqui pelo Papagaio.
Mas muito facilmente poderemos transformá-la em verdadeira. É simples. Ora veja:
1. onde se lê “professor” deverá ler-se “médico”;
2. onde se lê “escola” e “agrupamento” deverá ler-se “hospital”;
3. onde se lê “aulas” deverá ler-se “consultas”;
4. onde se lê “directores” deverá ler-se “administradores”.
Depois destes esclarecimentos continua desconfiado? É fácil, basta consultar a última edição do Expresso, à venda num quiosque perto de si!
2 comentários:
Pois... estava a achar muita fruta!
...e por isso lhe chamei História da Carochinha...
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