sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo?

 

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2011 está aí à porta (é já amanhã!), o que quer dizer que, segundo os antigos Maias, temos quase dois anos para nos prepararmos para o fim do mundo! Será no dia 21 de Dezembro de 2012 que terminará um ciclo de 5125 anos do calendário Maia e que marcará um cataclismo de bíblicas proporções e que irá arrasar todo o planeta e arredores!

Será assim? Quanto aos fins do mundo, já tive a minha conta. Ainda era petiz e havia sempre um iluminado (ou “illuminati”, segundo os seguidores das teorias mais modernas dos códigos davincianos…) que se lembrava de analisar as suas cartas astrais (ou outros suportes pseudocientíficos) e concluir que desta é que era, que o mundo ia mesmo acabar. Depois, já se sabe, no dia D, as pessoas iam trabalhar, às suas vidas e tudo seguia como dantes.

Mas e 2011? Como ficamos?

Pessoalmente, 2010 foi uma no de m… muitas coisas pouco boas, a todos os níveis. Vá lá, que o meu Benfica safou-se, foi campeão e mostrou que está aí para as curvas! Agora, quanto ao resto, foi muito pouco agradável, quer a nível pessoal, profissional, social e local.

No aspecto pessoal, quando a saúde de alguém da nossa família se ressente, a família toda adoece.

No aspecto profissional, sinto-me cada vez mais defraudado por ser professor. Todos sabemos como tem sido o ataque continuado à nossa classe, pelos serviços centrais e ministeriais e também, imaginem, a nível local. Nunca me custou tanto ir todos os dias para a escola, dar as minhas aulas, encarar os meus alunos… Que serão os menos culpados no meio disto tudo, uma vez que serão o elemento mais… digamos, puro, no meio desta equação imensa que é o ensino em Portugal.

Mas por detrás de cada aluno temos os pais, que nem sempre nos ajudam da melhor maneira (e às vezes não nos ajudam mesmo nada!). Temos os órgãos directivos que, mandatados pelo poder central, se mascaram de tal forma, que acabamos por crer que ali está alguém que “pertence” mesmo ao Ministério e se esquece que ser professor não é seguir “às cegas” tudo o que é emanado da 5 de Outubro, pois os professores não são máquinas não pensantes, sem coluna vertebral… E que depressa se esquecem que, também eles, são professores! E que estão ali a prazo! E que um dia terão de regressar às salas e ginásios e dar as suas aulas!

No aspecto local, vejo a minha cidade a definhar a pouco e pouco. As únicas lojas e comércios novos que aparecem são dos chineses, e isto sem fazer nenhum juízo de valor.Vejo o número de desempregados a aumentar, as fábricas, lojas, comércios a fecharem.

Olhemos para a Avenida da Liberdade, cartão de visita de quem vem à nossa cidade. Olhemos para as lojas que a formam: se quisermos encontrar o centro da cidade, teremos que considerar um espaço cada vez mais reduzido, entre o jardim e o Banco Santander. De resto, algumas lojas que resistem, muitos espaços fechados e à espera de novos dias e investimentos…

E o desemprego… “ah, pois, é a crise, a culpada, a maldita…”

A crise?! E o descontrolo e incompetência deste socrático governo, a prazo e sem rei nem roque, a trabalhar a balões de oxigénio?

Farei feriado no dia em que Sócrates sair! Pela porta pequena, que é o que ele merece!

E Ponte de Sor?

O Público de hoje traz um artigo interessante, da Lusa, que refere que

«Quase todos os operários da Delphi em Ponte de Sor continuam no desemprego.»

E mais adiante, refere:

«Um ano depois de a Delphi, em Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, ter fechado as portas, a quase totalidade dos antigos operários da fábrica continua no desemprego e sem perspectivas de arranjar um novo posto de trabalho.»

«”A maioria dos meus colegas [cerca de 98 por cento] continua a receber o fundo de desemprego e não têm nenhuma perspectiva de arranjar um novo trabalho”, explicou à agência Lusa o antigo porta-voz dos trabalhadores, Francisco Godinho.» (…)

Se quiserem ler o artigo completo, é só clicarem no título da notícia que irão lá ter.

Mas deixemo-nos de lamúrias.

O Papagaio Daltónico deseja a todos os seus leitores e amigos

★ Bom Ano !!! ★* 。* • ˚* ˚ ˛ ˚ ˛ •˚ ˛ •˛•˚ ˛ •˛•˚ ˛ •˛•
° 。 ° ˚* _Π_____*。*˚*。*˚*。*˚*。*˚
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˚ ˛ •˛• | 田田|門|
★ Feliz Ano Novo ★
˛ ˚ ˛ •˚ ˛ •˛•˚ ˛ •˛•˚ ˛ •˛••˛•˚ ˛ •˛•

2011

domingo, 26 de dezembro de 2010

The Day After…

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A loucura do Natal já passou.

As prendas estão desempacotadas, as pantufas usadas, os telemóveis já trabalham, as TVs novinhas em folha já laboram, os papéis de embrulho já repousam, uns no lixo, outros na reciclagem, outros ainda esperam a oportunidade de serem reutilizados…

E Natal é isto! Esquece-se o essencial, a festa da reunião e da família, privilegia-se o consumismo, a compra desenfreada de tudo, o que é útil e o que não é, as lojas dos chineses regozijam-se com o Natal, “deveria ser todos os meses”… Para eles, é sempre Natal: não têm fins de semana, feriados, horários… São uma comunidade à parte, com regras próprias, horários só seus… Não sei, a sério que não sei, mas se as coisas já são assim, como é que será, no futuro, quando a China comprar a dívida portuguesa? Será que sempre vão substituir os castelos da bandeira por pequenos pagodes? Hmm, não sei, não.

Quem se queixa, quem se queixa sempre são os comerciantes, os vendedores. Não falo dos de Ponte de Sor, pois o comércio em Ponte de Sor, além das 4 (QUATRO!!) grandes superfícies comerciais, resume-se a um punhado de lojas e lojistas que, tal qual o Asterix, nada temem, excepto que o céu caia nas suas cabeças! E eles sabem como vão as coisas, com tanto desemprego que por aí grassa, o encerramento de tantas empresas… E eu só imagino quando os subsídios de desemprego começaram a esgotar-se, o que será do comércio tradicional da nossa terra.

A pouco e pouco, paulatinamente, encerraram-se tantas e tantas lojas que hoje é praticamente impossível prescindirmos das grandes superfícies comerciais se queremos comprar mercearias.

E no entanto…

Segundo dados fornecidos pela entidade que gere as caixas de Multibanco, a SIBS, só na semana que antecedeu o Natal foram movimentados cerca de 800 milhões de euros em terminais de pagamento em todo o país, o que significa um aumento de 4,8 por cento! E a isto, meus amigos, é aquilo a que eu chamo um paradoxo dos grandes! E para ser ainda mais paradoxal, que dizer dos 600 milhões que foram levantados das caixas Multibanco? Ok, foi só um aumento de 1,6 por cento, poro isso chamemos-lhe um paradoxinho…

O Governo pode respirar de alívio. A crise acabou! Sócrates é fixe! Viva o Sócrates, o nosso Grande Timoneiro, viva! Pim!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Croniqueta desportiva: Boavista visitou Ponte de Sor

Ponte de Sor acordou um pouco estranha! Parecia que estávamos num estado policial, tanta polícia na cidade! Tropas de Intervenção Rápida (polícia de choque), com as suas habituais viseiras, escudos e bastões... Jipes e sirenes e pirilampos em acção...

Era o prenúncio da chegada dos simpatizantes do Boavista, que hoje visitaram Ponte de Sor para cumprirem mais uma jornada do Campeonato Nacional de Futebol da Segunda Divisão B. E o motivo era simples, visto que por onde passam, as gentes e claques portuenses têm deixado uma... digamos, marca indelével da sua simpatia e civismo. Foi assim em vários sítios por onde passaram, com montras, vidros partidos e destruição de várias coisas.

E como o seguro morreu de velho, vá de convocar aquele aparato policial todo, que cautelas e caldos de galinha...

Mas felizmente não foram necessários, uma vez que o Boavista venceu por 2-1. Agora se eles têm perdido, não sei, não. Quando o Eléctrico marcou o seu golo, houve mosquitos por cordas. Mas as coisas lá se acalmaram, pois o Boavista empatou logo a seguir.

Mas comecemos pelo princípio.

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No princípio, eram um punhado de simpatizantes,

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com alguns cromos conhecidos…

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Estava tudo pronto para o jogo começar.

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Com tudo bem guardado,começou o jogo!

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O Eléctrico até começou bem…

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…e até fizemos o 1-0, perto do intervalo.

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O pessoal axadrezado não ficou lá muito satisfeito…

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…mas logo a seguir, o nosso guarda-redes Passarinho foi um verdadeiro frango… e o Boavista fez 1-1!

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Chegou o intervalo e o pessoal foi descansar.

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O Boavista começou a ameaçar mais na segunda parte e até prometeu que iria a Fátima de joelhos, sempre com medo que o Eléctrico voltasse a marcar…

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O nosso presidente até estava bem guardado…

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…mas quase no fim o Boavista marcou! E fez o 1-2…

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O árbitro ainda mostrou o amarelo a um jogador do Boavista que o quis beijar…

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E o Boavista lá fez a festa!

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Para o final, fica mais uma derrota do Eléctrico, cada vez mais último.

Até quando?

Despeço-me com amizade, até uma próxima oportunidade!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Brevemente, num caixote de lixo perto de si...

Sr. primeiro-ministro: estão a comer do caixote do lixo à minha porta!

Só quando levamos uma estalada visual acordamos para o efeito devastador que a crise pode ter numa família e na sociedade em geral. Sr. primeiro-ministro: faça alguma coisa porque a culpa é sua.

Diariamente são anunciados milhares de novos casos de pobreza extrema e pedidos de ajuda desesperados. Mas por vezes são precisas mais do que meras palavras para constatarmos que de facto o país está a mudar. E começa na porta ao lado da nossa. Na nossa rua. Na cidade, vila ou aldeia que habitamos.

Tive oportunidade de observar a crise de forma quase "impressionista", como um quadro a prender-me de forma violenta, cujas pinceladas fortes e cores agressivas transmitiram uma mensagem que me fez colar literalmente ao chão. Entrei numa realidade que julgava sobredimensionada, pintada com outras cores por quem nos governa, com tonalidades bem mais suaves. Entretidos que estamos na nossa vida diária, alheados e mergulhados em problemas muitas vezes comezinhos, esquecemo-nos de ver. Olhamos, mas não vemos.

Mas eu vi. Pouco deveria passar das 23h30. Passeava o cão no jardim fronteiro ao prédio quando um automóvel parou junto ao parqueamento. As pessoas que saíram da viatura não me conseguiam ver. A rua estava deserta. Um casal e um rapaz, não deveria ter mais do que 6 anos. Uma família como qualquer outra. Aproximaram-se a medo dos caixotes. Um a um, foram recolhendo lixo alheio. Lixo que para esta família parecia servir. O rapaz colocou vários sacos na bagageira até que algo o fez parar, saltando apressado para o banco traseiro da viatura. Espreitou pelo vidro. Estavam os três a olhar para mim. Senti a vergonha deles por terem sido avistados e a minha por não saber reagir. Fiquei sem chão.

Senhor primeiro-ministro: quando o ouço falar em energias renováveis tenho vontade de regurgitar. Quando ouço Vexa falar de progresso, de crescimento e desenvolvimento, de um Estado Social e de solidariedade: regurgito mesmo. Quando o voltar a ouvir falar em sacrifícios vou-me lembrar sempre do que vi nos olhos de um garoto, que é certamente muito mais homem do que muitos homens. E não me vou esquecer de si, do mal que tem feito ao país e que continua a fazer impunemente. O tempo o julgará, já que a Justiça está visto que não pode fazê-lo.

PS: as traseiras dos hipermercados deste país são nos tempos que correm, em alguns dias da semana, quase tão movimentadas como o interior dos mesmos. Sugiro ao Senhor primeiro-ministro uma visita a estes locais em vez de andar por aí a visitar fábricas que exportam rolhas para a China e portáteis para a Venezuela. Ou será que não quer ver o país real? O país que o senhor ajudou a construir. Ou devo dizer destruir?

Tiago Mesquita in blogue «100 Refens», aqui

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Contigo aprendi coisas tão simples…

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Contigo aprendi coisas tão simples como
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhastes súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente.

Ruy Belo (1933-1978)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Uma história da Carochinha?!…

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Ao folhear o Expresso desta semana, deparei com uma notícia que me deixou um pouco perplexo. Ora “esguardae”:

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«Maria triplicou o vencimento mensal sem mudar de funções nem de patrão. Professora do Ensino Básico, num grupo disciplinar com poucos docentes, só teve de trocar de escola e passar a guiar diariamente mais 40 quilómetros.»

(para quem, como eu, trabalha em Ponte de Sor, seria o mesmo que ir trabalhar para o Gavião, por exemplo. Mas deixemo-nos de “supônhamos” e continuemos a notícia)

«A distância não a incomoda. Esta foi, aliás, apenas mais uma das “colocações” do quadro da escola a que pertence para outro quadro de outra escola, também do Estado, com acréscimo salarial. O mecanismo é sempre o mesmo: põe uma licença sem vencimento de longa duração (por dez anos) na origem e faz um contrato (individual de trabalho ou de prestação de serviços) no destino, em que é paga de forma mais favorável.»

(está-lhe a crescer água na boca, caro leitor? Então continuemos)

«”Primeiro fui convidada por esta escola para fazer três tardes de aulas – ganhava mais do que o meu salário base – e depois para ficar a tempo inteiro, com horário completo de 35 horas e um salário base de €5 mil”. A professora diz que “é o mercado a funcionar” e que os ordenados foram propostos pelos próprios directores.»

«A dualidade de vínculo está prevista desde 2005 – quando foram criadas as escolas-empresas – e, garantem os directores, é utilizada por estar em causa a prestação de serviço à população. Os professores abrangidos são “pessoas chave” e este mecanismo evita que “sejam aliciados para o sector privado e, ao saírem, colocarem em causa a qualidade, justificou o Agrupamento XPTO quando se soube que oito professores pediram licença e a seguir assinarem contratos bem pagos na mesma unidade.»

(e a história continua…)

«Maria meteu a primeira licença em 1998. “Fui para outra escola ganhar mais 15% mas o que me fez mudar foi o modelo de gestão mais dinâmico”. O contentamento durou 5 anos. “A escola entrou em degradação com uma pressão na procura que me obrigava dar oito horas de aulas”. Como a visão da Educação de Maria não é a “produção”, – “o professor tem de procurar fazer o seu percurso com as condições mais adequadas” –, voltou a mudar.»

«Regressou à escola de origem, depois saiu por três meses para uma escola no Norte e a seguir para outra, sempre dentro do Ministério. “Foi feito um contrato de empréstimo entre a minha escola e outra, que cobria a diferença de ordenado, que era mais do dobro”. Um ano e meio depois, regressou ao ponto de partida, onde esteve até à actual colocação. Ainda assim, garante que o seu exemplo não é comum. “A maioria dos meus colegas acumula público com privado”.»

E fiquemo-nos por aqui.

Surpreso? Incrédulo?

Claro que sim, esta é uma história inventada aqui pelo Papagaio.

Mas muito facilmente poderemos transformá-la em verdadeira. É simples. Ora veja:

1. onde se lê “professor” deverá ler-se “médico”;

2. onde se lê “escola” e “agrupamento” deverá ler-se “hospital”;

3. onde se lê “aulas” deverá ler-se “consultas”;

4. onde se lê “directores” deverá ler-se “administradores”.

Depois destes esclarecimentos continua desconfiado? É fácil, basta consultar a última edição do Expresso, à venda num quiosque perto de si!

Um exemplo a seguir…

Hoje vou-vos falar de futebol (olha a novidade…) e solidariedade.31339_nabor

Ao folhear o Record de ontem, deparei com o nome de Ponte de Sor numa notícia que me encheu de orgulho: afinal, desportivamente a nossa cidade ainda nos dá umas alegrias. Aí se conta a história de um cidadão com o nome exótico de Nabor.

Nabor André Sabino Canilhas, de 30 anos, nascido em Beja, é actualmente atleta da equipa de futebol do Eléctrico Futebol Clube. Mas melhor que as minhas palavras será o artigo que a seguir reproduzo, assinado pelo jornalista Grácio dos Santos.

O plano B de Nabor

Mártir de lesões ainda joga na 2.ª Divisão

Três jogos, sempre ao serviço do Farense, é tudo o que Nabor regista da sua passagem pelo escalão principal do futebol português, nas épocas de 2000/01 e 2001/02. Tinha, então, 21 anos, e era um defesa/médio promissor. Uma grave lesão, contraída num Farense-Marítimo, foi o início de um processo que haveria de mudar a sua vida.

Hoje, Nabor (um primeiro nome de que não sabe a origem, mas que herdou do avô e do pai) ainda integra um plantel – o do Eléctrico, de Ponte de Sor, que disputa a 2.ª Divisão nacional –, mas os seus melhores golos são marcados no Centro de Recuperação Infantil de Ponte de Sor, onde é psicólogo clínico e coordena a equipa do Centro de Recursos para a Inclusão (CRI); entretanto, desempenha ainda funções de psicólogo clínico numa Unidade de Cuidados Continuados Integrados, em Alter do Chão. Nabor é, assim, aos 30 anos, um bom exemplo de como um jogador de futebol pode aproveitar um momento infeliz para se tornar num verdadeiro craque em termos sociais.

Projeto. “A educação que tive permitiu-me ter a capacidade de perceber que o futebol é uma carreira muito curta e que teria que ter um plano B para a vida; o sucesso neste desporto é incontrolável, por depender de vários fatores, como o rendimento, a saúde, a equipa, e também a sorte...”, conta Nabor, que esta época já regista 5 jogos na 2.ª Divisão.

“Sinceramente, depois de três anos parado, e regressando para jogar na época passada no Fronteirense, no distrital de Portalegre, não estaria nos meus horizontes voltar a dedicar-me ao futebol de forma mais séria. Mas esta época para um projeto no Eléctrico, confiando nas minhas capacidades, e apesar do meu historial de lesões nem hesitei em aceitar o convite”, explica, ciente de que duas roturas de ligamentos no joelho e várias operações nunca lhe permitiriam ambições como futebolista.

sábado, 4 de dezembro de 2010

No 30º aniversário da morte de Sá Carneiro

 

U1987698Foto: daqui

O jantar daquela quarta feira até que não foi mau. O Tó Alentejano tinha-me convidado para jantar na residência universitária perto da Avenida de Roma, na companhia do pessoal macaense que era companhia habitual das nossas tertúlias. A nossa conversa versava um encontro casual meu com José Cid na paragem do 45, há algumas horas atrás. E a conversa continuou e fluiu entre jovens que, com 20 anos, pensam ser os detentores da verdade. Ele era política, ele era futebol (mas aqui havia mais convergência, pois éramos todos benfiquistas), ele era religião…

A conversa estava então nas lições curtas e sucintas de mais umas tantas palavras de chinês que os nossos amigos macaenses se divertiam a ensinar-nos. «Como se diz filho da…?», «Como é que se manda um chinês àquela parte», enfim, frases e palavras desgarradas que, num dia mais tarde, nos seria de extrema importância…

A hora do noticiário chegava e um de nós ligou a TV. Mas… estranho. Música clássica? Emissão interrompida?… “Ok, deixa ligado que a gente vai mirando.”

E começaram a chegar as primeiras informações que davam notícia de que, naquele 4 de Dezembro do ano da graça de 1980 tinha ocorrido um despenhamento duma aeronave em Camarate, a poucos quilómetros de onde nos encontrávamos. E que, no meio dos destroços, estavam os corpos de Francisco Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa, respectivas esposas, um assessor, os dois pilotos e um popular apanhado no meio da rua!

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As horas seguintes foram passadas a seguir a informação constante, “pode ser que não tenha sido bem assim”, “pode ter havido trocas de identidades”… Mas não, efectivamente, a história batia toda certa. Era mesmo Sá Carneiro e restante comitiva que jaziam mortos, algures no meio de ferros e chapas retorcidas.

Imagem acidente CAMARATE

 

Naquela época, era de Esquerda. Quem é que, nos seus 20 anos não é de Esquerda? As minhas referências eram Soares, Salgado Zenha e outros políticos que, seis anos antes nos tinham tirado da ditadura.

Quanto a Sá Carneiro, para mim era uma pessoa bastante educada, com o dom da palavra, senhor de uma boa argumentação. Mas não sei porquê, aquela morte (como qualquer morte) fez-me estremecer por dentro. Senti um mal estar imenso e quando saí para apanhar o Metro para os Anjos, notei um ar muito estranho naquela quarta feira. Era Dezembro mas o tempo estava seco. Havia como que um ar pesado, tivesse lá ele o peso que tivesse. Mas estava estranho, as pessoas calmas, mas estranhas, como algo premonitório dos maus tempos que lhe seguiriam.

No fim de semana seguinte, assisti ao funeral daquele Homem pela tv, reparei que eu, embora não estando “lá”, estava realmente naquele funeral. Era um bocado de nós que ali ia: era seriedade, era frontalidade, era exemplo, eram valores. Principalmente, Valores, algo que hoje, infelizmente, não abunda na nossa classe política.

O depois já vocês sabem: Acidente? Atentado? O que é verdade é que ficaram muitas pontas soltas, muito por esclarecer. Após tantos inquéritos, ninguém foi capaz de uma conclusão inequívoca. E para falar verdade, nem sei se os nossos governantes querem que se apure a verdade. É que poderá sair muita gente chamuscada!

E o que fica hoje é o seu exemplo. Uma imensa saudade que tantos e tantos Portugueses sentem por aquele Homem que nos trouxe a Esperança, de que Portugal não teria que ser forçosamente o chiqueiro em que se tornou.

Hoje, dia 4, vão-se desmultiplicar “n” testemunhos da vida e obra de Sá Carneiro. O melhor tributo que lhe podemos prestar é o reconhecer que, com Sá Carneiro, o nosso país não se teria tornado naquilo que se tornou.

Não haveria políticos corruptos que, saídos dos governos, pululam de empresa pública em empresa pública, ganhando escandalosamente, “à Americana”, enquanto nós, os mexilhões, cada vez nos lixamos mais.

Não haveria governantes a declarar que se se provasse que eles tinham mentido, no dia seguinte sairiam do Governo e que logo a seguir, perante tantas e tantas provas da sua fuga à verdade diriam o contrário.

Não haveria Freeports, Faces Ocultas, corrupções a torto e a direito.

Não haveria Ministros com cursos “por encomenda” numa qualquer Universidade dos Trezentos.

Não haveria tanta e tanta falta de vergonha e de pudor daqueles que devem ser os primeiros a dar o exemplo.

30 anos…

Já lá vão tão longe, mas a ausência de Sá Carneiro só faz aumentar a vontade daqueles que, perante todas as adversidades, sabem que há um caminho, sabem que o Futuro é possível, que não temos que ser esta pobreza franciscana em que os nossos políticos nos transformaram!

Podem-me chamar sonhador, lírico, até, mas acredito que é possível!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Time waits for no one!

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TIME waits for no one

YESTERDAY is History

TOMORROW is a mistery

TODAY is a gift

That’s why it’s called THE PRESENT!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ode aos Ministros

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“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”

Eça de Queiroz, 1867

domingo, 21 de novembro de 2010

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«Há muito poucas repúblicas no mundo e mesmo assim, elas devem a sua liberdade aos seus rochedos ou ao mar que as defende. Os Homens só raramente são dignos de se governarem a si próprios.»

Voltaire

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Agora que o Natal está à porta…

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Francisco Moita Flores, Professor Universitário e Presidente da Camara Municipal de Santarém

«Enquanto autarca aceitarei prendas que possam ser encaminhadas para o Banco Alimentar contra a Fome.

Quando tomei posse como presidente da Câmara de Santarém fui confrontado com a quantidade de prendas que chegavam ao meu gabinete.

Era a véspera de Natal.

Para um velho polícia, desconfiado e vivido, a hecatombe de presuntos, leitões, garrafas de vinho muito caro, cabazes luxuosos e dezenas de bolo-rei cheirou-me a esturro.

Também chegaram coisas menores.

E coisas nobres: recebi vários ramos de flores, a única prenda que não consigo recusar.

Decidi que todas as prendas seriam distribuídas por instituições de solidariedade social, com excepção das flores.

No segundo Natal a coisa repetiu-se.

E então percebi que as prendas se distribuíam por três grupos.

O primeiro claramente sedutor e manhoso que oferecia um chouriço para nos pedir um porco.

O segundo, menos provocador, resultava de listas que grandes empresas ligadas a fornecimento de produtos, mesmo sem relação directa com o município, que enviam como se quisessem recordar que existem.

O terceiro grupo é aquele que decorre dos afectos, sem valor material mas com significado simbólico: flores, pequenos objectos sem valor comercial, lembranças de Natal.

Além de tudo isto, o correio é encharcado com milhares de postais de boas-festas que instituições públicas e privadas enviam numa escala inimaginável.

Acabei com essa tradição.

Não existe tempo para apreciar um cartão de boas--festas quando se recebe milhares e se expede milhares.

Quanto às restantes prendas, por não conseguir acabar com o hábito, alterei-o.

Foi enviada nova carta em que informámos que agradecíamos todas as prendas que enviassem.

Porém, pedíamos que fosse em géneros de longa duração para serem ofertados ao Banco Alimentar contra a Fome.

Teve um duplo efeito: aumentou a quantidade de dádivas que agora têm um destino merecido.

E assim, nos últimos dois Natais recebemos cerca de 8 toneladas de alimentos.

Conto isto a propósito da proposta drástica que o PS quer levar ao Parlamento que considera suborno qualquer oferta feita a funcionário público.

Se ao menos lhe pusessem um valor máximo de 20 ou 30 euros, ainda se compreendia e seria razoável.

Em vários países do mundo é assim.

Aqui não.

Quer passar-se do 8 para o 80.

O que significa que nada vai mudar.

Por isso, fica já claro que não cumprirei essa lei enquanto funcionário público.

Enquanto autarca aceitarei prendas que possam ser encaminhadas para o Banco Alimentar.

E jamais devolverei uma flor que me seja oferecida.»