terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dois poemas de Umberto Saba

IMG_5733

CONFINE

Parla a lungo con me la mia compagna
di cose tristi, gravi, che sul cuore
pesano come una pietra; viluppo
di mali inestricabile, che alcuna
mano, e la mia, non può sciogliere.
Un passero
della casa di faccia sulla gronda
posa un attimo, al sol brilla, ritorna
al cielo azzurro che gli è sopra.
O lui
tra i beati beato! Ha l'ali, ignora
la mia pena segreta, il mio dolore
d'uomo giunto a un confine: alla certezza
di non poter soccorrere chi s'ama.

Umberto Saba

FRONTEIRA

Fala e fala comigo a minha companheira
de coisas tristes, graves, que no coração
pesam como uma pedra: um esgar
de dores inexplicáveis, que nenhuma
mão, nem a minha, pode apagar.
Um pardal
no beiral da casa defronte
poisa um momento, brilha ao sol e volta
ao céu azul, bem lá no alto.
Ele é
abençoado entre os abençoados! Tem as asas e ignora
a minha pena secreta, a minha dor
dum homem junto a uma fronteira: a certeza
de não poder socorrer quem se ama.

(tradução de Rafael Martins)

\ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \

PORTO

Qui dove imberbi scritturali il peso
registravano, e curvi sotto il carico
in fila indiana sudati braccianti
salivano scendevano oscillanti
scale dai moli agli alti bordi, preso
tra bestemmie e muggiti, della vita
solo un pensiero a me era nocente.

Cercavo a quello un angolo ridente.
Molti, all'ombra di pergole, ne aveva
la mia città inquieta. Mi premeva
isolarmi con lui, mettere assieme
versi, cavare dal suo male un bene.

Spero ancora un rifugio allo stratempo.
Ecco: è stato un miracolo trovarlo.
Tutto, se chiedo, posso avere, fuori
quel mio cuore, quell'aria mia e quel tempo

Umberto Saba

PORTO

Aqui, onde o imberbe escrivão o peso
registava, e dobrados sobre a carga
em fila indiana, os trabalhadores, suados
desciam, balouçantes
as escadas das docas, para o barco, presos
entre blasfémias e gritos, de toda a vida,
só um pensamento me era inocente.

Tentava encontrar um ângulo feliz.
Muitos, na sombra da pérgola, não tinham
a minha cidade, inquieta. Queria
isolar-me com ele, juntar
versos, obter do seu mal um bem.

Ainda espero um refúgio da tempestade.
Ei-lo: foi um milagre encontrá-lo.
Tudo, se pedir, posso ter, menos
Aquele meu coração, aquele meu ar e aquele meu tempo.

(tradução de Rafael Martins)

1 comentário:

FAIRES disse...

Caro amigo,
Sei que gostas muito de ler, e estes dois poemas são magnificos, para não dizer, belos...
Talvez seja a minha fase de estado de espírito,mas confia... cada vez mais duro como uma rocha, qual diamante , impossivel de quebrar...
A reacção quimica tem vindo a processar-se, e os átomos dd caborno a unirem-se cada vez mais...
Calmo e sereno como o processo de transformação...
Gostei, para não dizer adorei...
Um abraço