Um dos preconceitos para com o povo romeno diz respeito à sua pobreza.
O espírito “empreendedor” dos romenos!
Mas vamos aos factos. A Roménia é, de facto, um país pobre, mas notando-se já uma tentativa de desenvolvimento, aqui e ali, fruto mais do que evidente da sua presença na União Europeia, com todo o dinheiro dos fundos comunitários a entrar e a ser utilizado em infraestruturas, acessos, etc.
Quando comecei a preparar a minha ida a Bucareste e à Roménia, a primeira coisa que fiz foi tentar comprar algo que me falasse da cidade e do país. Qualquer guia de viagens, qualquer revista, livro… Mas foi uma tarefa infrutífera, pois o resultado foi zero! Tanto em Ponte de Sor como em Lisboa… Zero! Nicles! Nada!.
Começámos a pensar: “se não há nada sobre o país, se calhar é porque não vale a pena lá ir.” Para cúmulo dos cúmulos, vários amigos se me dirigiram, falando daquilo que nós, ocidentais, temos como certo dos romenos: povo paupérrimo, a ameaça dos ciganos, potenciada com a novela Sarkozy, possível criminalidade, enfim, um nunca acabar de ameaças e perigos que desincentivariam qualquer pessoa no seu perfeito juízo de lá se dirigir.
- Vê lá se me consegues ultrapassar!
- Oh senhor, tire lá o retrato para eu me ir embora!
Em boa hora verifiquei que os preconceitos são mesmo isso: preconceitos, isto é, ideias preconcebidas, sem conhecimento da realidade e sem qualquer fundamento, não baseados em factos e certezas mas sim no “diz-se diz-se”, no “fulano foi lá e viu”…
Claro que encontramos inúmeros centros comerciais, com os últimos modelos da moda, tal como cá, mas também com lojas com muito pouco de qualidade para vender. Lembro-me do centro Comercial da Praça Unirii, com o sempre presente McDonald’s, Louis Vuiton, Prada… No início de Outubro inaugurou-se um outro Centro Comercial, perto do Unirii, mas virado para uma clientela totalmente diferente e exclusiva: os novos-ricos, que querem marcas exclusivas em espaços amplos, num cenário minimalista, mas transparecendo uma qualidade bem visível nos preços.
- Sai um McRoyal Deluxe com ketchup à parte, que é pago.
Bolas! As bejecas romenas são todas de meio litro…
Centro Comercial Unirii (“união”)
Ah, os preços… Devo dizer que me senti um bocado abonado em Bucareste e na Roménia, em geral. A moeda deles é o leu (plural: lei). Um euro vale cerca de 4,2 lei ou, se quiserem, um lei equivale a pouco menos de 25 cêntimos. Havia inúmeros restaurantes que anunciavam refeições completas por 10/15 lei! Pois é, a crise também chegou à Roménia!
Refeição completa, 10 lei (aprox 2.5€)
Aqui é mais caro: 15 lei!
Por falar de crise, os romenos vivem num aperto bem grande, uma vez que têm o IVA taxado a 24% e no início de Julho todos os assalariados tiveram um corte de 25% no vencimento! Sim, vou dizer outra vez: um corte de vinte e cinco por cento!! Como comparação, digo-vos que um professor com quase o mesmo tempo de serviço que eu, ganhava cerca de 400 euros antes de Julho e agora ganha cerca de 320!! Para conseguirem equilibrar o orçamento, aproveitam todo o tempo para darem explicações, muitas vezes até altas horas da noite.
Preparando os covrigi, pequenos pretzels que se vendem como bolinhos quentes!
A simpatia romena, por todo o lado
Nos dias que passámos na Roménia havia uma grande contestação nas ruas, tendo o povo, inclusive, cercado o Ministro das Finanças no seu gabinete, só conseguindo este sair já a noite ia alta, num carro da polícia! E no dia seguinte, foi a vez do Ministro da Educação ser contestado por professores, alunos e restante população. Saíram todos à rua e na televisão notava-se bem a contestação popular mas o meu conhecimento do romeno apenas me chega para umas quantas palavras e, claro, ficava quase tudo «lost in translation»…
Os ciganos romenos… Bem, para ser verdade, vi-os duas vezes: uma em Bucareste e outra em Tulcea. Tal qual como os nossos, possivelmente um pouco mais andrajosos, mas estavam, tal como cá, a recolher papel, plásticos, etc. Foi curioso que, quando encetávamos conversa com qualquer romeno, a sua conversa ia quase sempre parar ao assunto de como eram os romenos vistos no exterior, no dito “mundo civilizado”.
Por aqui, o sol também é amarelo… bem, laranja.
Claro que o episódio Sarkozy e a expulsão dos ciganos romenos de França criou na opinião pública uma ideia de que todos os romenos eram ciganos e, como no filme de Ettore Scola, “feios, porcos e maus”. Nada disso! O povo romeno é simpático, acolhedor, gosta de agradar a quem o visita, gosta de conversar e por vezes pode transparecer uma certa tristeza, quiçá por verem tanta pobreza num país tão bonito como promissor. Frequentemente íamos a lojas, restaurantes, museus e, de facto, aqui e ali notava-se alguma impreparação no contacto com o turista, alguma falta de eficácia. Mas onde essa falta de eficácia aparecesse, era logo compensada por uma amizade, alegria e vontade de agradar. E para quem, como nós, estava de espírito limpo e coração aberto, isso fazia toda a diferença!
O grupo de professores do nosso projecto: Roménia, Lituânia, Portugal, Turquia, Suécia, Dinamarca e Noruega
1 comentário:
E está tudo muito bem dito!
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