quarta-feira, 21 de julho de 2010

«Carta Aberta à gente do Interior»

in “Da Nação”:

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Minha Gente,

É inegável que o mundo atravessa uma crise devastadora, cujos efeitos ainda estão longe do ponto de retrocesso. É inegável que se exigem sacrifícios a muitos países, nomeadamente aos mais débeis da zona euro, como Portugal. É inegável também que esta crise veio, no nosso caso, agravar as dificuldades — muitas delas metodicamente ocultadas — que uma determinada forma de governar criou. É inegável também que uma crise grave não justifica tudo e mais alguma coisa, tudo o que seja feito para reduzir as despesas do Estado. Muito pelo contrário! É nestes momentos delicados que se exige a máxima ponderação, para que a precipitação e o desespero não sejam molas mais fortes do que razão e não provoquem danos irreversíveis.

Vós, gente nobre e pobre do interior do país, já destes demasiado para este interminável peditório: foram as maternidades, os centros de saúde, os postos da PSP e da GNR, as escolas… , que acrescentam desertificação à cancerígena desertificação que vos come os ossos e bebe o sangue, desde o final da década de 60. Nas aldeias, vão ficando as pedras e os velhos empedernindo, até que não reste ninguém. Já vistes os vossos filhos e os vossos familiares partirem para os quatro cantos do mundo. E foram poucos os que voltaram! Agora o Estado pede-vos novamente os filhos e os netos, não para a guerra, não para salvar a pátria, mas para poupar dinheiro que vai ser gasto em extravagâncias faraónicas, a pagar as asneiras da desgovernação e da desonestidade de alguns banqueiros. Vós estais a ser levados vivos para a morgue. Acreditai que, nos grandes centros, a não ser os filhos e os netos que lá tendes, poucos se importarão com isso, poucos serão capazes de se erguerem do sofá para protestar. E acreditai também que outros há que só têm olhos para os votos e para os grandes viveiros onde eles crescem.

Está, pois, na hora de vos reerguerdes, para defender o vosso património humano, a vossa História, a herança dos vossos avós. Está na hora de dizer BASTA, de dizer NÃO, sem petições, sem marchas, sem buzinas, sem folclore. Está na hora de dizer um NÃO autêntico e genuíno, saído das vossas entranhas, em honra do passado e do futuro a que tendes direito. Dizei NÃO ao encerramento das vossas escolas, aos bonitos e tecnológicos aviários onde querem enfiar os vossos filhos, a granel, longe dos vossos olhos, da vossa companhia, da vossa protecção. Não deixeis que vos tirem o pouco que tendes, o pouco que ainda vai justificando os impostos que pagais, o pouco que ainda vos vai fazendo acreditar que viveis num país realmente solidário, o pouco que ainda vos vai agarrando à vida e à terra, à vossa terra, à terra onde tendes o direito de viver, dignamente, com a vossa descendência. Não deixeis que ninguém, nenhum iluminado, vos diga o que é melhor para vós e para os vossos filhos. Levantai-vos, pacificamente, e dizei BASTA!

Luís Costa

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