O 10 de Junho é, de há muitos anos a esta parte, um feriado cuja comemoração o tem tornado cada vez mais cinzentão. Pobre do Camões, pobres das Comunidades Portuguesas, que não o mereciam.
Todas as celebrações que se colocam nas mãos dos políticos tornaram-se em clones umas das outras: basta verem no que se tornou o 25 de Abril, data essencial na história portuguesa. Enquanto os políticos e governantes do nosso país não viram aquilo transformado num outro 10 de Junho, não descansaram.
Eles são os discursos, chatos como o caraças, todos iguais uns aos outros, ano após ano. É um verdadeiro exercício de busca e localização tentar ver as diferenças. E é todos os anos a mesma coisa: após os discursos e os apupos ao nosso primeiro (possivelmente a melhor parte das celebrações), lá vêm as condecorações. E para estas tem que haver sempre umas a título póstumo, para darem um ar mais… digamos, unânime, pois dos mortos ninguém diz mal.
E como corolário, lá vem o desfile militar das tropas em parada, sempre com um ar marcial e mauzão, como quem diz «connosco ninguém se mete!». Vá lá que este ano resolveram inovar: a inclusão dos antigos combatentes deram uma verdadeira lufada de ar fresco.
Há quase um mês, no dia 17 de Maio, tive a felicidade de, em virtude das ligações aéreas estarem um bocado atafulhadas (o vulcão, lembram-se?) passar um dia na cidade de Oslo, na Noruega. E dia 17 era, nem mais, nem menos, o dia nacional da Noruega.
Levantámo-nos cedo e. logo pela manhãzinha, foi ver um corropio constante de gente que, nos seus melhores fatos regionais, passeavam pelas ruas de Oslo. Pelas ruas da cidade era fácil encontrar automóveis antigos, carroças, motas antigas, tudo com um ar impecável, engalanados com a bandeira da Noruega.
Esse dia 17 era o culminar duma semana de comemorações, com inúmeros espectáculos musicais em praticamente todos os jardins e parques do país. As estátuas dos heróis nacionais estavam engalanadas com coroas de flores e todas as pessoas passeavam com as suas famílias, numa manifestação de orgulho nacional.
A manhã da celebração do dia nacional teve o seu culminar com o «Desfile das Crianças», onde todas as crianças das escolas de Oslo e da região percorreram uma das maiores avenidas de Oslo até ao Palácio Real, onde o Rei e restante Família Real cumprimentaram todas a população. Disto, tenho a certeza que a Toutinegra Escarlate iria gostar!!!
Muito mais iniciativas tiveram lugar, mas este final de manhã foi algo fresco e inovador para nós, portugueses, que não estávamos habituados a celebrações assim tão pacíficas, tão pouco bélicas. Aliás, a única vez que vimos o exército foi na pessoa das chefias que também integravam o desfile. Ah, e vimos também aquilo que me pareceu ser a orquestra do exército.
Quanto eu não daria para podermos demonstrar o nosso amor pátrio sem armas, sem discursos bacocos e bafientos, cheios de palavras, como diria Shakespeare:
«…Told by an idiot, full of sound and fury, Signifying nothing.»
(…ditas por um idiota, cheias de som e fúria, não significando nada)
Precisamos de cor.
Precisamos de luz.
Precisamos de orgulho de sermos como somos.
Precisamos do verdadeiro amor pátrio.
E não creio que sejam os políticos as pessoas mais correctas para nos falarem em
honra,
orgulho,
decência,
democracia.
Não os nossos políticos. Que roubam gravadores para esconderem as suas palavras. Que enganam o povo, constantemente. Que são corruptos mas que se safam sempre. Que criam fundações para proveito próprio. Que aceitam subornos. Ou pequenas oferendas, para não ofender os mais sensíveis.
Não precisamos desta gente. Urge repensarmos aquilo que queremos ser: se um povo que segue, alarvemente tecendo loas a quem nos guia para um precipício, quais ratos seguindo o flautista que nos encanta com contos dum livro que ele escreveu, cheio de mentiras e falsidades, se um povo que diz «é por aqui que quero ir». Ou, pelo menos, que saiba dizer «só sei que não vou por aí!»
E preparem-se: vem aí a comemoração doa 100 anos da República: que celebrações magníficas nos esperam? Um mastro de bandeira de 1 milhão de euros?
Para este peditório já eu dei!
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