quinta-feira, 10 de junho de 2010

in «Jornal de Notícias», hoje:

00:24
«Foi um herói para perder a vida assim»

Mãe do manobrador da REFER lamenta a vida "dura" da prole. Familiares dos irmãos idosos inconformados

Veste-se de preto há tempo demais, tantas têm sido as perdas. Aos 63 anos, Conceição Alves chora a morte de mais um filho. "O que eu passei para os criar e vê-los agora partir assim.... é muito doloroso... custa muito aguentar".

Conceição olha as últimas fotografias tiradas por Fernando, o filho do meio. O mais velho "foi assassinado aos 26 anos", agora Fernando, 37 anos, morreu debaixo de um comboio. "Foi um herói para perder a vida assim, deste jeito" diz em jeito de pedido de desculpa.

Sem tirar os olhos das fotografias, Conceição revela que ficou viúva aos 37 anos. O marido, também ele trabalhava para a CP no Entroncamento, perdeu a vida num acidente às portas de casa, em Fazenda, freguesia de Ponte de Sor. Criou os três filhos rapazes sozinha. "O que eu passei para os criar.... nem imagina", vai dizendo, enquanto passa as mãos pela fotografia de Fernando. "Esta foi tirada no dia do casamento dele", conta.

Apesar da dor, Conceição acede a conversar mais um pouco. Vive com o filho mais novo, a nora e dois netos. "São a alegria desta casa", assegura, revelando que Fernando também tem dois filhos, a Beatriz, de 5 anos, e o João Pedro, de 9 anos. "São muitos agarrados ao pai e o pai tinha uma verdadeira loucura pelos filhos".

As lágrimas voltam a cair e Conceição diz que os dois netos vão ser acompanhados por psicólogos da REFER. "A Psicóloga telefonou à mãe e disse-lhe que ela tinha de contar o que aconteceu ao pai e os filhos é que decidiam se queriam ou não ir ao funeral", conta, adiantando que "a psicóloga disse que só podia vir cá a casa na próxima terça-feira".

Fernando Matos trabalhava há mais de 15 anos na REFER. Ontem, terminava o turno às 13 horas e regressava a casa, em Barroqueira, Ponte de Sor, para descansar. Entraria novamente ao serviço à meia-noite.

No Pátio do João da Luz, nos Riachos, a família de Olga e António vai começando a chegar ao final da manhã. Irmãos, primos, sobrinhos choram inconformados a perda dos idosos. "Eles iam a Lisboa ter com os filhos da Olga", revela uma vizinha, adiantando que os dois irmãos viviam ali sozinhos "há muito tempo" e, apesar da família "ser grande", os vizinhos acabavam por ser a companhia dos irmãos.

Olga e António deslocavam-se uma vez por mês a Lisboa, "para ir dar a reforma aos três filhos que vivem lá", diz uma moradora.

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