terça-feira, 1 de junho de 2010

A Escola na Noruega (1)

"As escolas, fazendo que os homens se tornem verdadeiramente humanos, são sem dúvida as oficinas da humanidade." (Comenius)

Comenius é a adaptação latina do nome de Jan Amos Komensky, professor e cientista checo que viveu nos séculos XVI-XVII. Comenius (vamos chamar-lhe assim) é considerado por muitos como o fundador da Didáctica moderna, cujas premissas se baseavam no seguinte:

  • Uma educação realista e permanente;
  • Um método pedagógico rápido, económico e sem fadiga;
  • Um ensinamento a partir de experiências quotidianas;
  • Um conhecimento de todas as ciências e de todas as artes;
  • Um ensino unificado.

Lembrei-me muito de Comenius aquando da minha visita ao 'País Onde A Noite Tira Férias Nesta Época Do Ano': a Noruega. Por vários motivos, um dos quais se deve ao programa da Comunidade Europeia que leva o seu nome e que permite a professores e alunos, visitar outras realidades diferentes.

E como é diferente o ensino na Noruega!


A Escola

A escola que visitámos, a Vikstranda Skole, em Vangsvik, é uma escola com vários ciclos de ensino, indo do 1º ano (1. klasse) até ao 10º. Já aqui falei dela, mas agora gostaria de referir alguns pormenores, comparando-a com a realidade que me é mais próxima: a Escola João Pedro de Andrade, com 2º e 3º ciclos (transitoriamente tambem com duas turmas de 1º).

A Vikstranda é um edifício com cerca de 40 anos. Está situada na entrada de Vangsvik, rodeada por bosques e montanhas, o que lhe confere uma aparência muito bela no Inverno, com os campos completamente cobertos por neve. Tem um campo de futebol exterior, um campo de futebol de 5 e uma piscina interior aquecida. Possui inúmeras oficinas de culinária, trabalhos manuais, carpintaria e outros ateliers onde os alunos experimentam as mais diversas facetas do conhecimento.


Alunos e Docentes

Tem 135 alunos, distribuídos pelos seus 10 níveis. O seu corpo docente é formado por 20 professores, nos quais se incluem o Director e um outro professor com o título de «Inspektor», que é muito diferente do conceito que temos de um inspector. Este tem como função zelar por tudo aquilo que diz respeito ao normal funcionamento da escola. Ou seja, circulação nos edifícios, bem estar dos alunos e docentes, eventuais situações de indisciplina (não vimos nenhuma enquanto por lá andámos!)…

Os restantes docentes asseguram as aulas das diversas disciplinas, trabalhando frequentemente com diversas disciplinas. No que diz respeito àqueles que mais de perto lidaram connosco, leccionam Inglês, Norueguês e Educação Moral, que é um pouco diferente do conceito da nossa Religião e Moral. Esta Educação Moral trata das diversas crenças religiosas e filosóficas, numa perspectiva de conhecimento. Também trata de áreas relacionadas com Educação Cívica, Prevenção Rodoviária, Primeiros Socorros…

No seu horário estão destinadas funções de «inspeksjon», ou seja, auxílio ao Inspector para manter a escola a funcionar em pleno, sem alunos a «laurearem a pevide» pelos corredores, a prejudicar quem quer trabalhar (mas onde é que eu já vi isto?). Como a escola tem um relevo muito diverso, há docentes que asseguram os corredores, outros o espaço exterior da escola, outros sítios igualmente sensíveis, como perto da água, etc.

Mas não vos quero transmitir a ideia de que a escola parece uma instalação militar... Os professores desempenham esta tarefa sem se dar por isso. E não nos devemos esquecer que a escola tem crianças dos 6 aos 16 anos.


O Director

A função do Director daquela escola ultrapassa em muito a função do Director nas escolas portuguesas. Assim, no caso de um professor faltar, é ele o primeiro a avançar para a substituição do docente faltoso. Já imaginaram isso acontecer cá para as nossas bandas? Perguntei-lhe o que ele pensava do caso, explicando-lhe as ‘particularidades’ das nossa substituições (ficou de cara à banda!). E para minha surpresa (ou talvez não), o Director, Ulf Fredriksen referiu que era muito importante para si poder substituir qualquer docente faltoso, visto que lhe permitia manter contacto com as aulas e com os alunos, não se verificando qualquer ‘divórcio’ com a realidade. Aí, valente!

Quanto ao seu trabalho, referiu que ele é o responsável máximo da escola, assegurando-se de que nada falte aos seus docentes. A função destes é o principal a seguir.

E sabem que mais? Esta deixou-me de boca aberta:

Se um professor (que não o Director) avançar para uma substituição, recebe mais 100%! Isso mesmo: recebe uma hora extraordinária! Soa-vos familiar?


Turmas

As turmas são pequenas, em virtude de não haver muitos alunos. Mas mesmo nas restantes salas, o número máximo de alunos anda à volta dos 20 alunos. Ali, na Vikstranda, o número maior de alunos era de 17! E era uma turma grande!

Admirei-me imenso quando vi que, na sala de muitas turmas, os alunos não estavam todos presentes. A razão? Muito simples. Há sempre um grupo de alunos (rotativo) que, em determinadas tardes se apresentam em Vangsvik, onde são distribuídos por diversas lojas, escritórios e repartições. assim, todos os alunos experimentam uma tarde no consultório do dentista, outra no talho, outra nos correios... Devo referir que, na entrevista que nos foi feita, a «jornalista» era uma aluna de cerca de 16 anos, que se encontrava naquela semana a prestar trabalho no jornal local! E que tal para ensino vocacional?

2 comentários:

HzoLio disse...

Será que é por isso que eles são um país desenvolvido?! Hummmm, talvez não... ;)

Joana disse...

Alguma vez este sistema poderá ser aplicado em Portugal? No país dos Doutores??? Da Mula Russa ....!!! Infelizmente, essa realidade no nosso país não passa de uma utopia, bem utopia para alguns, destino trágico para outros