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Os Portugueses são um povo de exageros. Perdão, rectifico: Somos um povo de exageros.
Neste momento, 99,9% dos portugueses já saberão que José Saramago morreu (neste momento, os 0,1% restantes acabaram de ser informados). A avalancha noticiosa fque presenciamos foi uma constante, desde a transmissão em directo do seu funeral, as declarações de todos os que o conheceram (e não conheceram...)
A peça de reportagem mais anedótica foi de um cidadão da aldeia onde Saramago nasceu que, perguntado pelo jornalista se o escritor contactava com a população da aldeia, referiu «ele quase nunca cá vem e nunca o vi...» Foi uma boa prova de jornalismo de «encher chouriços»!
José Saramago viveu paredes meias com a polémica. Desde as suas posições de extremo estalinismo, quando no Diário de Notícias fez a vida negra a muitos dos que se lhe opunham, passando pelas suas posições de ateísmo militante, não esquecendo o seu quase divórcio com a pátria que o viu nascer...
Quando estudamos literatura, colocamos a vida do escritor em paralelo com a sua obra, como forma de o situarmos e melhor compreendermos. José Saramago teve uma infância e vida difícil, em parte devido à sua oposição à ditadura e militância no Partido Comunista. Diz quem o conhece que não era uma pessoa fácil, mas deixou-se enclausurar num casulo ideológico, recusando as evidências que davam o comunismo que defendia como um modelo ultrapassado, ignorando que o Muro de Berlim tinha sido derrubado e a Russia tinha renegado o «seu» comunismo.
A sua obra, reconhecida em todo o mundo, não é fácil. Ou se gosta, ou não se gosta. Provavelmente, serei um daqueles que formam a excepção à regra. Por diversas vezes tentei ler alguma das suas obras, mas algo me fazia desistir pouco tempo depois. A excepção foi o «Evangelho Segundo Jesus Cristo», provavelmente a sua primeira obra polémica.
Encontrava-me em Coimbra, esperando o nascimento da minha primeira filha, quando resolvi que, para me ajudar a passar o tempo, iria comprar um livro. Fui à Bertrand e reparei nos escaparates que anunciavam a obra. Como qualquer leitor, peguei-lhe, sopesei-a e folheei um pouco, lendo algumas passagens. E gostei, verdadeiramente, o que me levou a comprá-la. E dei o dinheiro por bem empregue, visto que gostei genuinamente da sua escrita, enredo, construção frásica (não sou um dos críticos da «escrita sem pontuação»...)
Pensei: «é desta que vou ler Saramago». E tentei uma vez mais, novamente sem sucesso.
Quantos e quantos daqueles que agora lhe tecem loas não renegaram o seu exemplo e obra? Será que era assim um escritor tão unânime? Creio que não. Mas isso sou eu e só eu que penso.
A atribuição do Prémio Nobel é um facto mais do que suficiente para lhe serem prestadas homenagens consentâneas com o seu estatuto, mas mais uma vez, termino como comecei:
Somos mesmo um povo de exageros!!!
Neste momento, 99,9% dos portugueses já saberão que José Saramago morreu (neste momento, os 0,1% restantes acabaram de ser informados). A avalancha noticiosa fque presenciamos foi uma constante, desde a transmissão em directo do seu funeral, as declarações de todos os que o conheceram (e não conheceram...)
A peça de reportagem mais anedótica foi de um cidadão da aldeia onde Saramago nasceu que, perguntado pelo jornalista se o escritor contactava com a população da aldeia, referiu «ele quase nunca cá vem e nunca o vi...» Foi uma boa prova de jornalismo de «encher chouriços»!
José Saramago viveu paredes meias com a polémica. Desde as suas posições de extremo estalinismo, quando no Diário de Notícias fez a vida negra a muitos dos que se lhe opunham, passando pelas suas posições de ateísmo militante, não esquecendo o seu quase divórcio com a pátria que o viu nascer...
Quando estudamos literatura, colocamos a vida do escritor em paralelo com a sua obra, como forma de o situarmos e melhor compreendermos. José Saramago teve uma infância e vida difícil, em parte devido à sua oposição à ditadura e militância no Partido Comunista. Diz quem o conhece que não era uma pessoa fácil, mas deixou-se enclausurar num casulo ideológico, recusando as evidências que davam o comunismo que defendia como um modelo ultrapassado, ignorando que o Muro de Berlim tinha sido derrubado e a Russia tinha renegado o «seu» comunismo.
A sua obra, reconhecida em todo o mundo, não é fácil. Ou se gosta, ou não se gosta. Provavelmente, serei um daqueles que formam a excepção à regra. Por diversas vezes tentei ler alguma das suas obras, mas algo me fazia desistir pouco tempo depois. A excepção foi o «Evangelho Segundo Jesus Cristo», provavelmente a sua primeira obra polémica.
Encontrava-me em Coimbra, esperando o nascimento da minha primeira filha, quando resolvi que, para me ajudar a passar o tempo, iria comprar um livro. Fui à Bertrand e reparei nos escaparates que anunciavam a obra. Como qualquer leitor, peguei-lhe, sopesei-a e folheei um pouco, lendo algumas passagens. E gostei, verdadeiramente, o que me levou a comprá-la. E dei o dinheiro por bem empregue, visto que gostei genuinamente da sua escrita, enredo, construção frásica (não sou um dos críticos da «escrita sem pontuação»...)
Pensei: «é desta que vou ler Saramago». E tentei uma vez mais, novamente sem sucesso.
Quantos e quantos daqueles que agora lhe tecem loas não renegaram o seu exemplo e obra? Será que era assim um escritor tão unânime? Creio que não. Mas isso sou eu e só eu que penso.
A atribuição do Prémio Nobel é um facto mais do que suficiente para lhe serem prestadas homenagens consentâneas com o seu estatuto, mas mais uma vez, termino como comecei:
Somos mesmo um povo de exageros!!!
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