«Acompanho com curiosidade e alguma gozo o frenesim que tomou conta dos directores ameaçados de extinção dos cargos em consequência da fusão de agrupamentos escolares.
Sobra-lhes agora o nervosismo e a indignação que lhes faltou, em 2008 e 2009, quando os professores foram alvo do mais violento ataque de sempre à profissão docente.
Não me revejo no modelo de gestão escolar criado pelo decreto-lei 75/2008. Creio que a escola é uma organização que só tem a perder com um modelo de gestão profissionalizado.
A criação de mega-agrupamentos pode até trazer algumas vantagens pedagógicas para além da salutar e necessária redução na despesa pública. Entre as vantagens, destaco:
Um maior distanciamento físico e geográfico entre o director e os docentes que leccionam fora da escola-sede pode ampliar os espaços de liberdade pedagógica e reduzir o controlismo estéril e a perda de tempo dos processo de prestações de contas sob a forma de preenchimento de grelhas, actas e relatórios. Para a maioria dos professores o afastamento do director será uma benção.
A criação dos mega-agrupamentos, integrando estabelecimentos de todos os níveis de ensino, tornará inviáveis os chamados projecto educativos, projectos curriculares de escola e outra tralha curricular semelhante. A formatação da prática pedagógica fica mais difícil e os professores ganham em liberdade de actuação.
Sou a favor ao regresso a um modelo de gestão não profissionalizado e inteiramente democrático com os jardins de infância e escolas do 1º CEB a criarem agrupamentos horizontais com não mais de 1000 alunos por agrupamento gerido por um delegado escolar eleito por docentes, funcionários e pais por um período de 3 anos, renovável até ao limite de 9 anos.
Sou a favor da eleição de conselhos directivos, constituídos por 3 docentes, eleitos por docentes, funcionários e pais, sem direito a suplemento remuneratório, nas escolas dos 2º e 3º CEB e nas escolas secundárias com mais de 800 alunos e conselhos directivos com dois docentes nas escolas com menos de 800 alunos.
Estou, portanto, curioso, esperançoso e optimista com as consequências provocadas pela criação dos mega-agrupamentos. Ao menos, o processo veio pôr fim à paz podre, ao controlismo e à formatação pedagógica vigente. E abre-se uma porta por onde pode entrar ar fresco.»
Ramiro Marques, ProfBlog
1 comentário:
Passo muitas vezes por aqui. Gosto do teu blogue.
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