terça-feira, 25 de agosto de 2009

Somos Portugueses, 'tá-se mesmo a ver!!!


Somos mesmo portugueses, não há dúvida nenhuma!!

Acabadinho de chegar do Algarve (bem, acabadinho, não, que já passou uma semana), constatei o grave acidente que ocorreu em Albufeira, na praia Maria Luisa. O resultado, já todos sabem: cinco mortos, uma família inteirinha do Porto!

Na desgraça, os Portugueses são muito solidários: eram bastantes aqueles que sentiam a tragédia como sendo sua, pois podia ser qualquer um a ter ficado naquela situação, podia ser qualquer família.

E as operações de resgate dos corpos continuaram, com directos de TV! E os basbaques não saíam da praia, a carpir na tragédia alheia!

Investigações posteriores mostraram que, afinal, algumas entidades, como o nosso Primeiro Ministro ('Expresso' dixit) não consideraram o problema de queda de rochas eminente e, por isso, nada foi feito.

E soubemos mais. Havia um sinal de aviso de queda de rochas, mas as pessoas, como bons portugueses, resolveram pura e simplesmente, ignorá-lo. «Qual quê, aquilo nunca me irá acontecer!»

E foi engraçado (sem piada nenhuma) os capítulos seguintes, como a demolição do rochedo que sobrou, relatado em directo, como se de um encontro de futebol se tratasse: «E agora entra uma retroescavadora para ajudar a desgastar o rochedo...». Quase que poderiamos prever o que seguiria: «E pela esquerda avança a outra máquina, dando oportunidade para que o trator verde avance, segue em frente, toca no rochedo...» Só faltava contratá-la para ajudar o Cardoso a marcar penaltis!... Ou pôr o Sporting a jogar alguma coisa de jeito!

Claro que a coisa não podia ficar por ali. Já tinha havido o acidente, as entrevistas às testemunhas, o resgate dos corpos, a destruição do rochedo... E tudo em directo!

O momento seguinte foi mostrar que nós somos mesmo Europa! «Reparem, as televisões de todo o Mundo relataram a tragédia: Espanha, Reino Unido, Polónia, Alemanha, Roménia...» Ah, que bom, somos Europeus, como aquele senhor que parecia o Avô Cantigas tanto nos gostava de relembrar! Na desgraça, somos Europeus! Na desgraça e no futebol, que ainda vamos tendo o Cronaldo para nos entrar nas televisões a dentro...

Para o caso poder ser concluído, faltava o prólogo e a moral final, cumprindo, assim, a nossa TV, o seu inestimável trabalho de serviço público. E o que se seguiria? Nem mais, nem menos do que a verificação de situações semelhantes em todo o país e, claro, as entrevistas aos «populares»!

Ah, os «populares»... Ainda no Algarve, as TVs encontraram outras situações de falésias instáveis (não é preciso procurar muito) e encontraram famílias inteiras (como as malogradas vítimas de Albufeira) à sombra daquela «dádiva de Deus», uma vez que nem teriam que levar os chapéus de sol... como aqueles que se venderam no início do ano, no Continente (passe a publicidade) por UM EURO!

Que não, que ideia, estavam ali tão bem, que raio, alguma vez poderia haver outra tragédia igual? Não, estamos aqui tão bem, não vai haver DE CERTEZA outro caso igual, e viva a lei das probabilidades!

E no resto do país foi igual. Como aquele idoso que, na zona protegida e interdita na Nazaré, por debaixo do Sítio, alarvemente dizia «ah, já sou velho, isto aqui não vai cair, já caiu lá no Algarve...»

E depois, os «intelectuais»! Adoram botar opinião sobre tudo! O culpado? O Governo! O Primeiro Ministro! Os banheiros! Os concessionários! Se fosse em Ponte de Sor, se calhar o culpado era eu!

Quanto a mim, o culpado é muito simples de indicar: é o Português! Sou eu! És tu! Somos todos nós, aqueles que adora pensar que as desgraças só acontecem aos outros.

A solução para o problema? Tenho duas: uma irónica e outra séria. Quanto à irónica, era colocar um polícia ao pé de cada arriba em situação instável, em permanência 24 horas por dia, porque o Português adora prevaricar, a qualquer hora. Quanto à solução séria, essa era também fácil. Em primeiro lugar, era evitar a construção sobre as falésias, pois isso leva a um desmatamento que faz com que as infiltrações de águas sejam mais pronunciadas, enfraquecendo as arribas marítimas. Em segundo lugar, devia-se consolidar todas as falésias com rochas em identica situação com redes, cimento, como se vê pelas praias dessa Europa fora. E como nós somos Europeus, podia ser que conseguíssemos aprender alguma coisa.

Tão simples como isso. Agora espero os próximos episódios ou, em alternativa, a próxima tragédia!

É que nós somos assim, não há volta a dar. É como com os incêndios: no rescaldo de cada época de fogos, é ouvir os avisos de que é necessário limpar as matas, que estão cada vez mais sujas. E sabem quem é o principal responsável por esta situação? Simplesmente o Estado Português, que é dono de tantas matas mas não faz nada para obviar a que a situação seja resolvida!

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