Epílogo (do grego epílogos - conclusão, pelo latim epilogus) é uma parte de um texto, no final de uma obra literária ou dramática, que constitui a sua conclusão ou remate. (in Wikipedia)
Parece mentira, mas já se passou quase uma semana desde que regressámos e eu nunca mais escrevi nada sobre a Noruega. Mas a explicação é simples: precisei de tempo para poder processar toda a informação que recebi, todos as vivências, conhecimentos…
Os últimos dias lá passados (Quinta e Sexta) foram utilizados para terminarmos os trabalhos iniciados nos diferentes países, executados na Noruega, bem como a preparação das tarefas seguintes do projecto, porque a próxima reunião do Projecto será em Outubro, em Galati, na Roménia.
Na Quinta, dia 20, iniciamos o dia cedo, como habitualmente, pelas 8 e meia, quando os últimos grupos apresentaram os seus trabalhos terminados na véspera, o nosso incluído. O Nuno e o Ricardo brilharam, fazendo uma apresentação muito boa, por todos os países elogiada.
Durante o resto da manhã, foram delineados outros trabalhos, onde cada grupo de trabalho elaborou um portefolio com todas as indicações de cada elemento do grupo.
O trabalho correu de forma tão perfeita, que quase nem demos por chegar o meio dia, hora de almoço… oferecido pela escola!
E que almoço original foi esse, meus amigos!
A cozinha era, no mínimo, original: uma tenda construída à maneira da comunidade Sami (ou lapões, como também são chamados), com lume de chão. E com bons cozinheiros, a condizer!
Quanto ao pitéu, era… bem, tinha batatas, legumes… era um guisado de rena! Hmmm… Uma delícia, acompanhado com pão Sami… Posso dizer que, depois dum pitéu daqueles, ninguém ficou com fome!
Depressa chegaram as 2 da tarde… hora a que as aulas terminam na Vikstrande Skole! Outros costumes! Pois!
Regressámos a Finnsnes onde, finalmente, tivemos algum tempo livre. Uns aproveitaram para ir às compras (coitados, não tiveram muito tempo, pois as lojas fecham às 16.30…), outros começaram a preparar o jantar. Que seria internacional, com várias especialidades dos diferentes países… queijos lituanos… vinho português… enchidos romenos… bolos suecos… salmão norueguês…
Foi o tempo de trocas de lembranças, canções e danças do todo o mundo, discursos, mas também de reflexão sobre todo o trabalho efectuado.
Rápido chegou a hora de cada um se dirigir aos seus quartos, mas… Aquela luminosidade da meia noite norueguesa, aquele brilho constante que nos entrava pelos quartos… Era uma sensação muito confusa, passear pelas ruas de Finnsnes após a meia noite, parecendo que eram 6 da tarde, com um silêncio sepulcral apenas interrompido pelo piar das gaivotas! E meu Deus! Como elas são barulhentas!
Na Sexta, 21, instalou-se em todos aquele ambiente de fim de festa, de encerrar a barraca, de terminar os trabalhos. Notava-se nas caras de todos: dos alunos, dos professores, das famílias…
A última manhã de trabalho na Vikstranda foi aproveitado para fazermos a avaliação do que fora feito até ali, de limar arestas para futuras tarefas e também para fazermos uma última visita à escola.
A Vikstranda Skole é a única escola de Vangsvik, construída em 1972 e renovada em 2002. Tem cerca de 20 professores e 135 alunos, do 1º ao 10º ano. As aulas começam às 8.30 e terminam às 14.10. Tem um ginásio, um campo de futebol e bosques e montes em seu redor. Que no inverno se enchem de neve, o que faz as delícias da pequenada!
Também tem uma piscina interior, aquecida (claro!), o que, na Noruega, é um equipamento essencial e obrigatório em todas as escolas. E a explicação é simples: uma vez que a Noruega tem uma costa imensa (é quase uma ilha), o Ministério da Educação estabeleceu como uma meta essencial a obrigatoriedade de todos os alunos aprenderem a nadar.
Sobre a escola, muito mais há para dizer. Lá terá de ficar para mais tarde.
Como dizia, regressámos a Finnsnes, onde uma jornalista nos esperava para uma entrevista sobre o projecto. Com os elementos de todos os países presentes, foi com surpresa que vimos que a jornalista não teria mais de 16 anos! Lá conduziu a entrevista em inglês perfeito e agora só esperamos a edição do Nordlys, o jornal da província de Troms. Esperamos ter depois a tradução, porque o norueguês...
Regressados a casa, era hora de começar a empacotar a tralha, pois tínhamos de sair cedo para Bardufoss e iniciar o caminho de regresso. Foi tempo de mais umas fotografias, apreciar uma vez mais o ambiente e começar a antecipar as saudades que teríamos daquele sítio.
À noite (estranho conceito, este… ‘Noite’ mas com luz do dia!) tivemos o nosso jantar de despedida, com todo o grupo do Projecto e de vários professores da Vikstranda Skole que nestes dias connosco trabalharam. Sem esquecer Ulf Fredriksen, o Director da Vikstranda, homem de múltiplos talentos, com uma voz capaz de fazer inveja a muitos cantores!
E o jantar teve lugar numa tenda Sami que existia no quintal da casa onde ficámos nestes dias, ‘Finnsnes Gaard’. Foi servido um churrasco de salmão e de carne, com as gaivotas sempre a acompanharem-nos, tentando roubar sempre qualquer coisa!
Um perfeito final! Que poderíamos desejar mais? Apenas um regresso seguro a Portugal, o que esteve quase a não acontecer, pois os aeroportos de Bardufoss e de Oslo estiveram encerrados devido às cinzas do Eyeffio… qualquer coisa! Mas foi sol de pouca dura, pois voltaram a abrir no fim de Sexta.
19 de Maio, algures pela ilha de Senia
Quem conhece a Noruega nesta época, sabe que ao longo do dia, o tempo pode ter mil caras. Valha a verdade que, desde que chegámos, o tempo não nos tem castigado muito. É certo que tem chovido todos os dias, mas tem sido sempre uma chuvinha tipo ‘molha parvos’, que não dói muito.
Esta 4ª feira, dia 19, foi destinada à parte turística. Mas primeira, tivemos uma primeira parte em que trabalhámos, das 8.30 às 10.00. Cada grupo apresentou os seus trabalhos efectuados nos diferentes países e aqui terminados. Como o tempo foi curto, a apresentação do nosso grupo ficou marcada para o dia seguinte.
A hora de partida rápido chegou e lá fomos num passeio para conhecermos melhor a zona onde fica situado Vangsvik.
Vangsvik fica situado a sul da ilha de Senia (Senja em norueguês). É a segunda maior da Noruega e fica situada a norte do país, acima do paralelo 69, muito acima do Círculo Polar Árctico. Digamos que fica ainda a norte do paralelo do Alasca. É uma ilha bastante recortada por inúmeros fiordes e com uma beleza natural única. A sua vida animal é maravilhosa, a cada curva podemos deparar com uma rena, ou um alce, ou inúmeros coelhos brancos…
Pois então lá partimos, dois autocarros cheios de alegria, com os alunos e os diferentes professores, prontos para um dia diferente, como diferente estava o dia: um sol brilhante, o céu sem nuvens… Se tudo corresse bem,o dia culminaria numa ‘visita’ ao sol da meia noite, uma das maiores ‘especialidades’ desta zona do planeta, uma vez que estamos´a norte do Círculo Polar Árctico.
Ao longo do percurso íamos encontrando paisagens de tirar a respiração e a primeira paragem foi na ilha de Husoy, que já havia visitado cinco anos atrás. Aí parámos para comermos qualquer coisa e fomos até o seu interior, onde visitámos uma escola primária.
Husoy é uma vila piscatória de pouco mais de duzentos habitantes, quase exclusivamente dedicada à pesca. Fica situada no Oytfjorden e a sua ligação com a terra é feita por uma ponte. A maioria dos seus 230 habitantes dedica-se a actividades relacionadas com a pesca, quer seja na pesca propriamente dita, no alto mar, quer seja na criação e manutenção de viveiros das mais diversas espécies, destacando-se o salmão.
E lá seguimos viagem, rumo ao sol… A próxima paragem foi um parque temático dedicado a um dos ícones da Noruega, o Troll. O parque de Senjatrollet (O Troll de Senia) fica na aldeia de Finsaeter e é o produto da imaginação de um casal de visionários, Siw e Leif Trolidad. A excentricidade do casal é bem patente na obra que encontrámos, que começou por ser uma obra local, de um casal, mas que depressa se tornou num parque temático de referência em toda a Noruega.
Aproveitámos a estada naquele local onde fizemos um churrasco com as famosas salsichas norueguesas e outras especialidades locais, pois já era mais do que horas.
A propósito da comida, estes estudantes noruegueses têm uns hábitos bem particulares, no que às refeições diz respeito. Em dias de escola, o pequeno almoço é tomado bem cedo, uma vez que quase todos os alunos vivem nos arredores de Vangsvik e têm que se deslocar para a escola de autocarro. Como não existe refeitório na escola, cada aluno traz de casa o seu almoço, bem como um pequeno lanche para o meio da manhã. Assim, pelas 10, tomam uma sandes e um sumo para mais tarde, ao meio dia, tomarem o almoço que trouxeram de casa, uma ou duas sandes e fruta, já que para beber, a água da torneira, que vem das nascentes naturais que abundam por aquelas zonas, serve perfeita-mente. E como as aulas terminam, no máximo, pelas 3, regressam cedo para casa onde, lá para as 5, jantam. É esta a principal refeição do dia e lá mais para o fim da noite, tomam uma ceia mais ligeira, geralmente leite e sandes.
No que à viagem diz respeito, depois de sairmos do Senjatrollet, continuamos pela estrada fora, numa paisagem que alternava o belo com o muito belo:
Poder-se-ia pensar que, pelas fotos que apresento, a coisa não podia melhorar. Mas o facto é que melhorou, uma vez que nos dirigimos a vila de Hamn i Senja onde teríamos o climax de toda a jornada: o famoso sol da meia noite!
Para melhor observarmos o fenómeno, subimos ao ponto mais alto da zona, lá bem alto e começámos a observar algo que, decerto, nos marcará para o resto das nossas vidas.
E assim foi. Que espectáculo, meus amigos! Por vezes as palavras são desnecessárias, quando os factos falam por si. Por isso, que dizer perante este espectáculo do sol a ‘cair’ até à meia noite?
‘Oficialmente’, é esta última foto do verdadeiro sol da meia noite, uma vez que ele ainda desceu um pouco mais para reiniciar a sua subida. O dia em que o sol será mais brilhante e o dia terá mais tempo será durante o solstício de verão, que ocorrerá em 21 de Junho. É nesse dia que, à meia noite exacta, o sol parará a sua descida e reiniciará a sua subida.
Alguns ainda quiseram ficar um pouco mais para observarmos a subida, mas o cansaço de um dia tão cheio de tudo fez com que todos quisessem regressar às suas casas, uma vez que no dia seguinte, lá voltaríamos a levantarmo-nos às 6 e chegar à escola pelas 8.30, para terminarmos os trabalhos.
OK, nesta altura poderão pensar: «Foi um dia cheio, tudo já aconteceu e só falta regressar». Certo? Errado!!
Ainda faltava mais uma série de boas surpresas, como à frente verão. A luz do sol a reeguer-se é, ela própria, um espectáculo à parte.
É nesta altura do dia, entre as 11/12 da noite e as 3/4 da manhã que os animais saem para comer, caçar e alimentarem-se e às suas crias.
E começámos por encontrar renas, com as suas crias,
dois enormes alces, passeando e
coelhos brancos, dezenas deles…
Alguém dizia que a nossa viagem mais parecia um documentário do National Geographic…
E o autocarro chegou. O dia acabou. Tempo de dormir!