quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Ilusão Alemã

Nos idos de Abril de 2006, tive a oportunidade de, ao abrigo do Projecto Comenius, participar num projecto europeu que englobava a visita de alunos portugueses à Alemanha.

Porta de Brandemburgo, Berlim

Grupos de professores de toda a Europa (Portugal, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Noruega, Itália...) participaram em várias actividades de índole cultural e escolar, levando alunos até à Alemanha, onde ficaram hospedados em casas de famílias de jovens da mesma idade.

O nosso objectivo final foi Weisswasser, que fica a cerca de 20 km da fronteira polaca, portanto dentro da antiga Republica Democrática Alemã.


Weisswasser
é uma pequena cidade que me faz lembrar em tudo a nossa Marinha Grande. A sua principal actividade é toda ela relacionada com o vidro e o seu relevo é plano. Tal qual a Marinha.


Weisswasser era, nos tempos aureos da RDA, a capital do vidro!


Na visita que fizemos à Câmara Municipal de Weisswasser, o Presidente Hartwig Rauh lamentou-se da crise que assolara a sua cidade, onde, de cerca de uma dezena de fábricas relacionadas com o fabrico de garrafas e outros artigos em vidro, somente uma sobreviver, dedicando-se ao fabrico de copos e artigos de decoração. Tal qual a Marinha!

Devido ao fluxo de mão de obra que chegara a Weisswasser, houve a necessidade de se construir um bairro enorme, de morfologia... soviética, se é que me estão a perceber: caixotes quadradões, mas com boas condições de habitabilidade.

Com a queda do Muro de Berlim e, por consequência, a reunificação alemã, houve uma perda de importância da industria vidreira e Weisswasser conheceu uma debandada de gente, que resolveu perseguiu o sonho do El-Dorado na antiga vizinha Alemanha Federal, uma vez que o Muro fora abaixo.

O bairro ficou vazio (vazio é mesmo o termo) e o Burgermeister Hartwig Rauh encontrava-se a tratar dos preparativos para demolir todo o bairro, aproveitando o espaço para criar um jardim. Uma atitude tão corajosa, como necessária.

E uma visita pela cidade mostrava mesmo isso: mesmo com a queda do Muro de Berlim, mesmo com a criação de uma Alemanha única, ainda encontramos duas Alemanhas bem distintas. A irmã pobre, a Alemanha de Leste, a viver com subsídios e pouco investimento, e a irmã rica e poderosa, a Alemanha Ocidental, com a sua Berlim reconstruída, modernaça, poderosa, esperando o evento que iria marcar todo o Verão: o Campeonato Mundial de Futebol.

Ainda sobre Weisswasser, depois do vidro, a cidade está agora a virar-se para a extracção mineira de carvão de superfície, aposta essa que está a começar a dar os seus frutos.

Extracção de carvão de Boxberg, perto de Weisswasser

O cuidado com o ambiente é constante e é agradável constatar que, após a extracção do minério, as escavações são novamente tapadas, criando-se jardins artificiais. Artificiais, é certo, mas com algum cuidado e preocupação em dotar uma paisagem feia com alguma beleza.

.

1 comentário:

Teresa Diniz disse...

Essa cidadezinha produz outras coisas, como Jacobs!
Agora a sério, parece-me que essa diferença entre as duas Alemanhas é cada vez menos notória. É um país com grande capacidade de recuperação e redireccionamento de energias. É essa a grande diferença em relação às nossas cidades.
Bjs