«Suprimir a distância é aumentar a duração do tempo.
A partir de agora, não viveremos mais;
viveremos apenas mais depressa.»
Alexandre Dumas
Na minha meninice, quando chegava a esta altura do ano, sabia que daí a duas semanas teríamos as
Festas de Agosto, que calhavam sempre no meio de Agosto e que duravam cerca de três/quatro dias.
Eram festas de carácter profano que se uniam na perfeição nos festejos em honra da Padroeira de Ponte de Sor,
Nossa Senhora dos Prazeres. Era um regalo ver os emigrantes que andavam lá por fora, aproveitarem para visitar o seu torrão natal, nas suas «máquinas» com matrículas de Inglaterra, França, Alemanha... Era gente e mais gente!
Ponte de Sor parecia uma cidade!!! Uma verdadeira cidade!
O sítio onde as festas decorriam era o antigo
Largo da Feira, que hoje é... bem, para falar verdade, é aquele jardim grande em frente do antigo Hospital... e não sei o nome! O espaço era perfeito: o local onde os artistas e os grupos musicais actuavam era cercado, havia muitas barracas de comes e bebes e espaço... muito espaço para as pessoas se sentarem, conviverem, ouvirem os seus artistas preferidos, comer um frango ou mesmo umas sardinhas...
E que não se diga que o cartaz musical era fraco! Os artistas da berra vinham a Ponte de Sor, lembro-me do Marco Paulo novinho em folha, com aquela carapinha bem cheia... E muitos, muitos outros!
Para nós, miúdos, era a festa dentro da Festa! Vermos as miúdas «estrangeiras», dar duas palavrinhas em «estrangeiro»,
«oui», «yes», «merci»... Era um verdadeiro prazer!
Mas os tempos mudam,
Ponte de Sor cresceu, fez-se cidade e, armada numa de novo-riquismo, não quis saber mais nada com qualquer coisa que a fizesse lembrar que fora um dia uma vila!
Ainda houve um período em que a coisa não era carne nem peixe, ainda houve algumas festas no antigo Largo da Feira
(lembro-me de, num ano, recebermos os Da Weasel - ainda pouco conhecidos - e o Emir Kusturica) mas foi sol de pouca dura.
Foi então que inventaram as
Festas da Cidade! Em má hora, digo eu. Pelo menos o conceito. E o sítio, então...
Ao eliminarem as festas de Agosto, acabou-se com tudo aquilo que era
genuíno na nossa terra. As Festas da Cidade nunca lhe chegaram aos calcanhares! E com o avanço do Progresso, a
Festa da Salgueirinha seguiu os mesmos passos.
Não adianta pôrmo-nos com discussões espúrias e desnecessárias sobre qual é o(s)
culpado(s) destes crimes de homicídio (ou festicídio?) dumas festas que agradavam a todos, locais e forasteiros! O que é verdade é que nunca foi feito nada para que as coisas melhorassem. E já tivemos vários Presidentes de Câmara e nada foi feito! Por vontade própria? Por ignorância? Por incompetência?
Para falar verdade,
gosto do Anfiteatro e do espaço envolvente, acreditem que sim. É um espaço perfeito para pequenos espectáculos, como aqueles no âmbito do Festival Sete Sóis Sete Luas, mas só isso. Pensar-se em colocar as Festas da Cidade no mesmo sítio, é o mesmo que colocar o Rossio na Betesga! Não é possível.
É confrangedor ver quem nos visita, ser recebido naquelas situações: as pessoas não se podem mexer, se se quiser assistir a algum espectáculo tem que se ir com enorme antecedência... Aqui há alguns anos veio cá a Rita Guerra, estava grávida e tudo. Soube que ela esteve cá porque a consegui ouvir. Bem, acho que era ela, pois nunca a consegui ver. E como eu muitas e muitas pessoas.
Não falo aqui do cartaz que, ano após ano, nos é apresentado. A prata da casa é sempre bem vinda, é claro, e sempre fica de borla! Sempre se poupam umas massas para umas fundaçõezitas, ou protocolos, ou...
Para nos sentirmos mais tristes, basta vermos que qualquer pequena freguesia ou lugarejo tem as suas
Festas de Verão, que apanham praticamente todos os fins de semana entre Junho e Setembro.
E se quisermos ver umas Festas a sério, daquelas que nós vemos e dizemos «
eh pá, isto é que são festas a sério!», então basta esperar pelos finais de Agosto e vamos à vila do Crato.
Aquilo, sim, são Festas! O espaço é muito bom, os artistas, do melhor, muitos espaços para se comer e beber, se estivermos cansados, depressa encontramos onde nos sentarmos... Muitos visitantes são de Ponte de Sor, encontro lá muita gente que nunca consigo ver nas nossas Festas da Cidade! E este ano promete ser igual. O cartaz é bom, para não dizer óptimo!
Sei que o Passado está lá atrás, não volta, mas com o Presente que nos dão, poderíamos dar-lhe uma vista de olhos para podermos construir um Futuro melhor!Mas isto sou eu a falar, que não passo de um
Papagaio. Vaidoso, é verdade, mas contínuo
Daltónico!
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