sábado, 11 de julho de 2009

Marrocos, 1990

Noiva marroquina, Meknes, Agosto 1990

Viajar...

Sempre adorei viajar, voar para outras paragens.

«Viajar é nascer e morrer a todo o instante», já dizia Victor Hugo.

É esse processo de conhecimento permanente que me atrai no acto de viajar, esse nascer e morrer a toda a hora, o desvendar os mistérios que estão ocultos em todas as culturas, em todos os povos, o conhecer mais algo que fica além do nosso conhecimento, por vezes do nosso entendimento, da nossa casa, do nosso país. Afinal, somos todos filhos de marinheiros, os tais que trouxeram novos mundos ao Mundo.

No Verão de 90 (já lá vão 19 anos, o que se pode constatar, olhando para as fotos) fui fazer aquela que considero até hoje, a viagem que mais me preencheu, em todos os aspectos: humano, pessoal e espiritual.

Foram 3 semanas, de autocarro (na 'juventude' dos nossos 30 anos aguentamos tudo!), uns bons milhares de quilometros, saindo por Algeciras, continuando por Marrocos, Argélia e Tunísia.

Nunca tinha saído da Europa, foi a primeira visita a uma cultura tão estranha, mas tão profunda e essencial na cultura portuguesa: a cultura árabe e a um continente tão misterioso quanto desejável, África.

Viajámos sempre confortavelmente (tão confortável quanto um autocarro pode proporcionar!) numa época crucial para a história mundial. Iniciámos a visita no dia 1 de Agosto e no dia 2, o Iraque invadiu, pela primeira vez, o Koweit, com os resultados que todos já conhecemos: a Guerra do Golfo!

Alguns de nós começaram a sentir algum receio. «E se...?» Em todas as caras com que nos cruzávamos tentávamos ver algum sinal de inquietação. O único ponto de contacto com a realidade (isto num ponto de vista ocidental) era-nos dado pelos noticiários das televisões francófonas, que íamos acompanhando pelos hotéis onde pernoitávamos.

Aos locais (principalmente os guias que sempre nos acompanhavam, que mais não eram que polícias políticos, exigência dos governos locais) perguntávamos sempre se haveria algum tipo de perigo, sendo turistas e ocidentais.

«Não, que ideia, vocês são portugueses e convosco nunca haverá problemas. Agora se fossem Americanos...»

Ruas de Asillah, Agosto 1990

O primeiro marco que me tocou foi a visita que fizemos a Asillah, a portuguesíssima Arzila, do tempo das Descobertas. Revelou-se um local extremamente belo, onde amiúde ouvíamos Amália nos corredores das esconsas ruas da cidadela portuguesa. Se era para atrair os incautos viajantes ou não, isso não sei, mas que fazia bem à nossa alma lusa, lá isso sem dúvida.

A cidadela portuguesa (é assim que ela nos é referenciada) é um conjunto de ruas estreitas, bem conservadas e com vários negócios, onde se pode encontrar de tudo, desde as mercearias mais diversas, passando pelas farmácias populares (onde se podia encontrar o produto mais estranho e bizarro, como as moscas afrodisíacas, referenciadas como o Viagra popular, e que o meu amigo Mustafah nos explicou, num relato tão cheio de humor!), várias lojas, padarias, madrassas (escolas coranicas), etc etc...

Continuando mais para sul, chegámos a El Jadida, ou Mazagão, como era conhecida na época de Quinhentos. A Fortaleza de Mazagão foi construída no início do século XVI como entreposto comercial para apoiar os navegadores da Rota do cabo. A sua cidadela portuguesa revelou-se um verdadeiro achado, tão bela quanto exótica.

Paragem obrigatória em El Jadida é a manuelina Cisterna Portuguesa, que foi sobejamente divulgada por Orson Wells, que ali filmou parte do seu filme «Othello», em 1952.

El Jadida, Cisterna Portuguesa, Agosto 1990

Em todas as cidades por onde passávamos impressionava-me a simpatia com que os locais nos recebiam e cumprimentavam, não obstante toda a bobreza e o período difícil que se passava.

Mas por hoje não vos aborreço mais. Numa outra oportunidade voltarei a falar sobre Marrocos e todo o Norte de África.

Até lá, bom fim de semana.

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Actualização:

Têm aqui uma foto mais actual da cisterna, com os cumprimentos da Wikipedia!

Foto Wikipedia


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1 comentário:

Teresa Diniz disse...

Como te compreendo!
Hei-de te mandar uma fotografia fantástica da cisterna portuguesa de Mazagão,ou El-Jadida, que por acaso até é Património da Humanidade e um dos monumentos mais visitados em Marrocos. (O que já saberias se visitasses o meu blogue, aumentando assim consideravelmente a tua cultura, claro!)
Bjs