Mas não é desse «O Lugar do Morto» que eu quero falar.
O que eu quero hoje aqui divagar (e já sabemos que o poeta diz que «divagar se vai ao longe»...) é sobre o OUTRO lugar do morto, aquele lugar que todos nós temos à nossa direita, quando conduzimos os nossos carros nas estradas do nosso País.
Não gosto do nome, pois viajar num local que «a priori» é chamado «do morto», não inspira lá muita confiança a quem leva o volante nas mãos!
Não gosto do nome, pois viajar num local que «a priori» é chamado «do morto», não inspira lá muita confiança a quem leva o volante nas mãos!
Viajar no lugar do morto é aquilo que, no dia a dia, muitos de nós fazemos, deixamo-nos conduzir, quem leva o volante é que decide. Se quer virar à direita, se à esquerda, se ir em frente... E nós podemos pensar e dizer «devias virar aqui, ou ali» mas quem tem o volante é que manda!
Na nossa sociedade, em tudo aquilo que constitui o nosso quotidiano, quantas vezes nos sentamos no lugar do morto porque...
simplesmente é mais confortável,
não dá trabalho,
podemos ir mandando umas «bocas»,
podemos dizer mal da condução deste e daquele...
É mais fácil, é mesmo muito mais fácil ser conduzido do que conduzir. Sempre podemos tirar uma pestana, sonhar com as coisas corriqueiras de que a nossa vida é fértil, ler as últimas paixões da Elsa Raposo ou o último vestido da mãe do Cronaldo...
Os condutores são muito ciosos dos seus lugares. Eles adoram guiar! Adoram mandar, pois eles é que sabem! Os que ocupam o lugar do morto podem não gostar de como o «chauffeur» (gosto desta palavra, o que é que querem?) conduz, mas ficam confortavelmente sentados, adormecidos, sem levantar ondas.
E o que acontece quando um dos ocupantes do lugar do morto decide que também quer conduzir?
«Não pode ser, és um vaidoso, queres é dar nas vistas, vai mas é a pé! És um cachopo, nós é que sabemos conduzir»
«Mas eu posso aprender, eu quero aprender, ensinem-me...»
«Não pode ser, não tens a classe que nós temos, nós somos a Elite, os predestinados para conduzir: NÓS!»
E que dizer daqueles que adooooooooooooram viajar no lugar do morto? Por vezes são os defensores mais acérrimos dos condutores, são aqueles que dizem «não penses nisso, dá muito trabalho, és muito novo, és muito velho, não tens experiência, tens experiência a mais...»
São os Profissionais do Lugar do Morto!
Como os reconhecemos? É muito fácil. São aqueles que se aproximam de qualquer aspirante a condutor e dão palmadinhas nas costas, dizendo «é muito boa ideia, mas olha que dá muito trabalho, não queiras, pois os condutores cheiram mal, são maus, assim perdes-te...»
Depois de ganha a confiança, os Profissionais do Lugar do Morto começam o seu jogo sujo de calúnias, insultos, falsidades...
«És vaidoso, não prestas, viajas muito, viajas pouco, perdeste isto, não sabes ganhar eleições, não sabes perder eleições...»
Estes Profissionais encontramo-los nos mais normais sítios, como nos Governos do nosso País, nas Assembleias, nas Câmaras, nas Escolas... fazendo a sua abjecta tarefa de desmotivar quem tem ideias e menorizar tudo aquilo que precisa de ser mudado. Chamam-lhes Yes-Man (ou Yes-Woman) e, como aqui já referi noutro post, lançam loas ao Grande Condutor, ao Timoneiro...
O Condutor, o Chefe é que sabe... SEMPRE!
(Agora um pequeno apontamento histórico-cultural: Sabia que Benito Mussolini, essa figura ímpar na história do fascismo internacional - pois, porque segundo alguns teóricos do nosso país, o fascismo nunca existiu em Portugal - autoproclamou-se «il Duce», que em italiano quer dizer «o Condutor»? Dá que pensar, não dá?)
Para terminar, e visto que estamos numa de conduzir, uma citação (já viram que adoro citações) dum poeta inglês de quem eu gosto muito, Lord Byron:
«É quando pensamos conduzir que somos conduzidos.»
E pelo mesmo preço, para acabar em beleza, podem levar uma outra citação, esta de um comediante, de nome George Burns, que morreu com a bonita idade de 100 anos:
«É uma pena que todas as pessoas que sabem como é que se governa o país estejam ocupadas a conduzir táxis ou a cortar cabelo!»
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1 comentário:
Pois é.
4 anos de porfiado serviço a facilitar a passagem de ano dos estudantes…
4 anos de guerra santa contra os professores, que passariam a ser avaliados também em função da avaliação que dessem aos alunos…
4 anos a trabalhar para as estatísticas e a demonstrar que não é preciso estudar para passar (nunca ouvi, nestes anos, um aluno queixar-se de dificuldade nos exames). O ponto alto foi mesmo um ‘estudante’ (?) que transitou para o ano seguinte com 9 (nove) negativas…
4 anos a convencer os proprietários das escolas privadas e os professores do ensino privado que devem votar PS, ou não fosse este medíocre Governo objectivamente o seu melhor aliado (aliás, quantos filhos de ministro, a começar pelos do Primeiro, estudam nas escolas públicas do ensino não superior?).
Ora, depois de tantos e tão relevantes serviços prestados contra a Educação, esperava-se que Sócrates depositasse a sinistra Maria no aterro das experiências falhadas...
Mas qual quê?
O Primeiro-Ministro resolveu metê-la sem a meter.
Eu explico: impôs ao PS que Maria de Lurdes Rodrigues fosse incluída nas listas para deputados, só que pelo círculo da Europa.
Assim, ela entra nas listas, mas longe dos círculos eleitorais onde votem os professores que estiveram nas manifestações dos cem mil.
O lado chato é que, em vez da Joana, o PS impinge-nos outra vez esta Maria…
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